sexta-feira, 3 de julho de 2009

Artista de rua ou Sacerdote oportunista?


Andando nas ruas de São Paulo, rua direita, praça da Sé, praça João Mendes, viaduto do chá, eu percebo que a cidade me engole... Sou engolido pela secura das paredes, pelo o frio, pelas pessoas bem apaixonadas, pelo individualísmo extremo e... Artistas de rua ou sacerdote trambiqueiro? O show já tinha começado; "você, dê um passo pra frente e se concentre, pois, assim que eu levantar esse chapeu o coelho vai sair pulando... pessoal se aproximem mais, mais por favor... Eu resolvi me aproximar, e o Sacerdote continuou: Bom pessoal eu vi que algumas pessoas saíram de "fininho" dizendo que é trambicagem, mais trambicagem é o que o governo anda fazendo por aí, e eu sei que muitas pessoas que estão aqui não tem trabalho, devem estar desde cedo procurando emprego, estou mentindo? Muitas vezes em quem a gente mais acredita acaba sendo a pessoa que nos faz mal, colocando "olho gordo" naquilo que a gente conseguiu com tanto esforço; pois eu digo pra vocês, eu tenho aqui comigo uma coisa pequena, mas que nunca me deixou na mão". Ele continua: " aí o rapaz alí me perguntou; mas é de graça? De graça não é pessoal, pois só uma passagem daqui pra Bahia é duzentos reais, e pra voltar é mais duzentos, ou seja, quatrocentos é o dinheiro que eu estou tentando juntar a mais de meses pra visitar a minha mãe. Então eu posso dizer pra vocês que esse Patuá (a imagem de uma santa dentro de um pedaço de plastico grosso costurado) é o que me dá forças e que já me livrou de muito mal que vocês possam imaginar, com esse patuá, que vai junto essa oração que pode ser rezada a noite antes de dormir, vocês irão ver que se apegando a nossa senhora muita coisa na vida... calma, calma pessoal daqui a pouco eu levanto o chapéu."


Enquanto isso, a vez do artista fica concentrada esperando a hora do grande espetáculo, ou seja, a hora daquele chapéu ser levantado para ver o que acontece com o coelho...


Como sou um defensor dos animais (por mais que ainda me alimente de carne animal- não de coelho, é claro) não suportei a idéia de saber que aquele homem estava usando um coelho para "comprar" sua passagem para Bahia. Antes de vê-lo (o coelho) eu resolvi sair do show de rua, porque eu sei que se eu tentasse fazer qualquer coisa ali a favor do coelho poderia acabar me dando mal, pois estavam ali pra conseguir dinheiro. Resolvi sair antes, e mais insignificante do que nunca, reconheci mais uma vez minha vulnerabilidade.


Todos que estavam "no show" balançavam a cabeça afirmando que estavam de acordo com tudo que o sacerdote/artista dizia. Aquele homem envolvia todos com uma facilidade que era de dar parabéns pra ele. Falava de dor, de traição, desemprego, amor, Deus, Maria mãe de Deus (nossa senhora), esperança.... E assim a porta se abre, pois a falta de explicação para aquilo que é indeterminado faz com que as pessoas abracem e glorifiquem o primeiro e o último homem que se meta a sacerdote... Queremos respostas por mais que sejam ordinárias, medíocres, hilárias, artificiais, ilusorias... o que queremos é respostas. Enquanto isso, dentro do chapéu, o coelho preso, sufocado, sem entender nada do que está acontecendo.



O caminho e a chave da porta para conseguir se dar bem, é primeiro, o mistério da mágica e depois, é preciso envolver essa ilusão com a magia da religião, com a esperança de um dia tudo acabar bem.


... assim se ganha mais dinheiro com o jeito ordinário de sobreviver.

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