quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

HUME.


“Em um primeiro momento, sinto-me assustado e confuso com
a solidão desesperadora em que me encontro dentro de minha
filosofia; imagino-me como um monstro estranho e rude que,
por incapaz de se misturar e se unir à sociedade, foi expulso de
todo relacionamento com os outros homens e largado em total
abandono e desconsolo. (...) Expus-me à inimizade de todos os
metafísicos, lógicos, matemáticos e mesmo teólogos; como me
espantar, então, com os insultos que devo sofrer? Declarei que
desaprovo seus sistemas; como me surpreender se expressarem
seu ódio a meu próprio sistema e a minha pessoa?”


(D. Hume. Tratado da Natureza Humana. São Paulo, EDUNESP, 2001)

A CAVERNA!


A caverna (...) é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que
projeta as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (do
Bem e das ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As
sombras são as coisas sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras, e as
imagens ou sombras dessas sombras, criadas por artefatos fabricadores
de ilusões. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança
em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O instrumento que
quebra os grilhões e permite a escalada do muro é a dialética. O
prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz
plena do ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o
Sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os
outros a sair dela é o diálogo filosófico, e as maneiras desajeitadas
e insólitas do filósofo são compreensíveis, pois quem contemplou
a unidade da verdade já não sabe lidar habilmente com a multiplicidade
das opiniões nem mover-se com engenho no interior das
aparências e ilusões. Os anos despendidos na criação do instrumento
para sair da caverna são o esforço da alma para libertar-se. Conhecer
é, pois, um ato de libertação e de iluminação. A paideia filosófica é
uma conversão da alma voltando-se do sensível para o inteligível.
Essa educação não ensina coisas nem nos dá a visão, mas ensina
a ver, orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si
mesma a capacidade para ver.


(M. Chauí, Introdução à história da filosofia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002)

O consumidor não é rei!!!!!

“Na medida em que nesse processo a indústria cultural inegavelmente
especula sobre o estado de consciência e inconsciência de
milhões de pessoas às quais ela se dirige, as massas não são, então, o
fator primeiro, mas um elemento secundário, um elemento de cálculo;
acessório da maquinaria. O consumidor não é rei, como a indústria
cultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, mas
seu objeto. O termo mass media, que se introduziu para designar
a indústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que é
inofensivo. Não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem
das técnicas de comunicação como tais, mas do espírito que lhes é
insuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa da
consideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar
a mentalidade destas, que ela toma como dada a priori e imutável.
É excluído tudo pelo que essa atitude poderia ser transformada. As
massas não são a medida mas a ideologia da indústria cultural, ainda
que esta última não possa existir sem a elas se adaptar.”


(Theodor W. Adorno. A indústria cultural. In: Cohn, Gabriel (org.).
Theodor W. Adorno. São Paulo, Ática, 1996)

Só há interpretações.


Diante do absurdo que é a vida!!! Uma pessoa que sai da caverna não consegue mais voltar. O que me fez sair? Não consigo mais voltar por mais que eu queira, é mais forte que eu. Viver é um ponto de interrogação. Sentir uma sensação atrás da outra e se deparar com o absurdo sempre e sempre... Quanto mais eu fujo, mais me deparo com dogmáticos vomitando suas verdades sobre mim. A estrutura mental de muitas dessas pessoas não segue uma linha de raciocínio, fica claro que não pensam por si, precisam de uma gosma de opinião que ronda por aí. A mesma reportagem que vi ontem a noite na record era muito diferente da reportagem que vi na rede globo,(num assalto, rapaz morre tentando salvar a vida da irmã) mudei de canal, fui para a rede tv, e de repente me deparo mais uma vez com a mesma reportagem modificada. Nietzsche tinha razão não há fatos só interpretações. A linguagem é um ato absurdo.