terça-feira, 23 de julho de 2013

Comissão da Verdade tem que investigar a Globo.

Por Miguel do Rosário, no Tijolaço

A Comissão da Verdade está em crise. Dos sete integrantes nomeados por Dilma, dois já desistiram, e a comissão tem se notabilizado por um burocratismo excessivo, falta de transparência e, sobretudo, ausência de uma estratégia de comunicação, fundamental para que se transforme em algo realmente instrutivo e producente.
Entretanto, talvez o principal entrave a bloquear os trabalhos da Comissão seja a sua falta de vontade de investigar o papel da mídia na ditadura. Morando no Rio, perto do centro, eu tive o privilégio de frequentar a Biblioteca Nacional e ler as edições dos principais jornais brasileiros nas semanas que antecederam o golpe militar. Houve uma construção deliberada, de jornais como O Globo, a Folha e o Estadão, para criar uma atmosfera de golpe. Há inúmeros estudos que revelam a articulação, muitas vezes patrocinada por agências norte-americanas, para orientar a mídia brasileira numa direção antitrabalhista, antinacional e antigoverno.
Nacionalismo e trabalhismo, no Brasil, sempre estiveram associados à esquerda, visto que nossa direita é, historicamente, vendida ao imperialismo americano.
A Comissão não pode ser usada apenas para culpar velhinhos de noventa anos que torturaram subversivos quarenta anos atrás. Estes deveriam sim ser condenados, como fizeram nossos vizinhos. Mas os tubarões, aqueles que efetivamente contribuíram para o golpe, foram grandes empresas, com ênfase nas empresas de mídia. O Brasil precisa conhecer a maneira pela qual essas empresas se consolidaram e assumiram uma posição hegemômica no setor de comunicação social. A concentração da mídia e do mercado de publicidade é um fenômeno mundial, que aconteceria com ou sem ditadura. Mas com a ditadura, ele se deu de maneira muito mais brutal, com artificialismo e enorme interferência estrangeira.
A Comissão investigará, por exemplo, o apoio dos Estados Unidos às Organizações Globo, antes e depois da ditadura? Se quiser se conhecer a si mesmo, o Brasil precisa enfrentar essas questões. Não por revanchismo, mas por razões acadêmicas, históricas e políticas. O Brasil merece a verdade. O Brasil merece saber, em detalhes, de que lado a Globo ficou quando a democracia brasileira foi brutalizada, e de que lado permaneceu enquanto ela foi torturada.
Seguramente há muitas histórias de corrupção por trás da consolidação do império global durante o regime, que nossos jovens precisam conhecer. Até para que as novas gerações não cometam os mesmos erros das antigas, de se deixarem levar por campanhas midiáticas agressivas, moralizantes, de cunho antidemocrático.
A Comissão da Verdade, se não quiser ser conhecida como Comissão da Covardia, precisa responder às ruas, que estão gritando:

A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!

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Fonte: Revista Fórum.

Ateus e agnósticos protestam contra gastos públicos na recepção ao papa

Com um secador de cabelos, membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea)  promoveram um “desbatismo” em frente à Catedral da Sé, centro da capital paulista.


Por Daniel Mello, da Agência Brasil
O “desbatismo” foi marcado via Facebook (Reprodução) Membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) protestaram hoje (22) contra os gastos públicos para recepção do papa Francisco e realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Brasil. Com um secador de cabelos, eles promoveram um “desbatismo” em frente à Catedral da Sé, centro da capital paulista. Após secar simbolicamente a água do sacramento do batismo, a pessoa recebia um certificado de participação no ato. “Podemos receber o papa, mas isso não significa que temos de gastar R$ 850 mil em uma recepção para ele, que os aviões da FAB [Força Aérea Brasileira] tenham de ir até o Vaticano para buscar o jipe dele”, disse o presidente da Atea, Daniel Sottomaior. Ele criticou também o fato de a prefeitura do Rio de Janeiro ter decretado quatro dias de feriado, dois deles parciais, por causa da visita do pontífice. Para Sottomaior, os gastos com a vinda do pontífice são um exemplo de como a laicidade (doutrina ou sistema que preconiza a exclusão das igrejas do exercício do poder político e administrativo) do Estado é desrespeitada no Brasil. “As autoridades sempre fizeram isso nesses 120 anos de República, pondo símbolos religiosos nas repartições públicas, pondo [a frase] ‘Deus seja Louvado’ no dinheiro, dando dinheiro para as religiões. Todos nós somos católicos e evangélicos à força, com a imunidade tributária que as igrejas recebem”, afirmou. O professor Marcelo Carvalho ficou sabendo do protesto ao ouvir as críticas de uma apresentadora de TV ao ato. Ele destacou que também não é contra a recepção ao papa Francisco, mas acha que a festa não deveria envolver dinheiro público. “É mais o gasto público com a vinda dele, não necessariamente a vinda dele”, ressaltou Carvalho.
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Fonte: Revista Fórum.


O COMPORTAMENTO DE MUITOS COORDENADORES DE ESCOLA.

 O Rato Que Tem Medo

domingo, 28 de abril de 2013

Quando de meus bons tempos de escola - e digo como aluno, obviamente -, não havia a esdrúxula e inútil figura do coordenador pedagógico.
As escolas eram regidas, e muito bem regidas, pelos diretores - bons diretores -, pelos inspetores - bons inspetores - e pelos professores - bons professores em sua maioria, outros nem tanto, mas todos muito bem pagos, o que logo de cara já lhes conferia o respeito da população, que, inculta, só respeita quem ganha bem.
Saí da escola em 1984, por conta da conclusão de meu Segundo Grau, sem conhecer a figura do coordenador pedagógico. Só comecei a ter o desprazer de conhecê-la - e jamais pude, na época, imaginar o grau de desprazer a que isso chegaria - exatos dez anos depois, quando, sabe-se lá por quais manobras do Destino, esse velho safado, peguei-me novamente em sala de aula, como professor, então.
A pessoa se apresentou a mim como tal, toda educada, cortês, boazinha e afável - todo canalha é educado, cortês, bonzinho e afável -, disse-me de suas funções de coordenadora para comigo e me deu até um papelzinho com suas atribuições por escrito :  I - acompanhar e avaliar o ensino e o processo de aprendizagem, bem como os resultados do desempenho dos alunos;II - atuar no sentido de tornar as ações de coordenação pedagógica espaço coletivo de construção permanente da prática docente;
III - assumir o trabalho de formação continuada, a partir do diagnóstico dos saberes dos professores para garantir situações de estudo e de reflexão sobre a prática pedagógica, estimulando os professores a investirem em seu desenvolvimento profissional; IV - assegurar a participação ativa de todos os professores do segmento/nível objeto da coordenação, garantindo a realização de um trabalho produtivo e integrador;
V - organizar e selecionar materiais adequados às diferentes situações de ensino e de aprendizagem;
VI - conhecer os recentes referenciais teóricos relativos aos processos de ensino e aprendizagem, para orientar os professores; VII - divulgar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis.
Nunca entendi patavina do idioma pedagogês, e nunca fiz questão de, e nunca farei. Mas  me pareceu que o tal professor coordenador fosse um aliado do docente, um amigo a ocupar um escalão mais alto dentro do território cada vez mais hostil em que se transformava a escola pública pós-ECA e pós-Progressão Continuada.
Mera ilusão de minha parte. Ingenuidade da mais vergonhosa, devo admitir. Nunca, nunca tive nenhum coordenador que desempenhasse minimamente o papel de aliado do docente. Todos, sem única exceção, ou por comodismo, ou por conveniência, ou por incompetência, ou pelos três motivos, uma vez que todo incompetente é conveniente acomodado, resumiram suas funções a uma única : vigiar o professor, e humilhá-lo sempre que possível.
O professor coordenador nada faz de pedagógico, ele é uma espécie de capitão do mato dos antigos senhores de escravos, e os escravos, desnecessário dizer, são os professores. Pior : o professor coordenador é aquele escravo que foi levado para mais perto de seu amo e senhor, é o escravo que foi levado a trabalhar dentro da Casa Grande, continua o mesmo bosta de escravo, mas a proximidade com quem detém o poder, com a mão que empunha o chicote, o faz se pensar também depositário desse poder.
O dono do chicote, vez ou outra, empresta o açoite ao coordenador, e ele se regozija, usa-o com enorme destreza contra quem era seu igual até ontem, chicoteia o escravo com mais prazer ainda que o próprio dono, como se chicoteasse sua própria condição anterior de escravo das senzalas, para afugentar de vez essa situação, para impedir a todo custo seu retorno a ela. O professor coordenador se esforça em mostrar que gosta menos dos escravos que o próprio senhor de escravos, para que o amo nunca o mande de volta à senzala, para que o mantenha sempre a lamber suas botas e seu saco.
Isso acontece porque os professores coordenadores foram um dia professores dos mais incapazes, professores totalmente incompetentes no domínio de uma sala de aula, seja por falta de conteúdo, seja por falta de pulso firme, de postura, ou o que seja. Os professores coordenadores são professores frustrados. Feito um crítico musical que desanca um bom disco, sem nunca, ele próprio, ter conseguido compor única melodia, por pura inveja; ou um crítico de cinema a dar uma só estrela a um filme, sem nunca ter conseguido escrever único roteiro, ou rodar única película.
O professor coordenador vê um bom professor e se irrita, morre de inveja da capacidade desse, capacidade que ele, um dia, quis ou julgou ter, mas descobriu-se um sem talento. Então, geralmente amigo de algum diretor ou de outro coordenador, ajeita uma mamata e se autopromove a coordenador. Daí para frente, lenha em quem tem o talento que ele não tem. Não à toa os professores coordenadores vivem a dizer que os professores não sabem avaliar, não sabem preparar aulas, não sabem isso, não sabem aquilo. Estão dizendo de si próprios, os canalhas, os traidores.
E uma ou duas vezes por semana, os coordenadores põem no tronco e chicoteiam seus professores, a sessão chibata ocorre nos tais HTPCs, reuniões de cunho falsamente pedagógico. Os HTPCs são os momentos em que o professor fica sabendo que todos os males da escola, quiçá do mundo, são de sua culpa e responsabilidade, são os momentos em que o professor é reduzido a menos que a merda do cavalo do bandido de filmes de faroeste.
Nos HTPCs, os coordenadores despejam todas as suas frustrações sobre o professor, despejam, como bem diria Lobão, a sua ira da frustração de não ter o próprio pau ereto. Grande Lobão.
E por que o governo coloca esse tipo de gente a liderar os professores? Um frustrado e incapaz não seria a pior espécie de lider possível? Claro que sim. Mas quem disse que o governo quer líderes para seus professores? Ele quer é vigias, punidores. E aí, o frustrado é a escolha perfeita.
O frustrado, imbuído de um pequeno poder, não lidera, apenas manda. Ele tem um poder circunstancial, o chicote emprestado, como bem diz o texto que logo reproduzirei.
Hoje, porém, vivemos tempos de politicamente correto, e a humilhação pública do professor não pode ser muito direta, muito contundente, ela tem que ser mais polida, mais subjetiva, mais canalha ainda. E para isso, para humilhar polidamente o professor, os coordenadores adoram se utilizar de pequenos textos, de pequenas fábulas com moral da história, usam-nas o tempo todo para mandar suas indiretas ao professor, suas farpas. Rubem Alves, Paulo Coelho, Gabriel Chalita, Paulo Freire etc são os autores que mais auxiliam o coordenador em seu açoitamento pedagógico.
Usando as mesmas armas que eles, reproduzirei - finalmente - um texto que trata muito bem dessa questão do chefe incapaz, que manda sem liderar; ao fim do texto, fechando-o com chave de ouro, escrita pelo genial e imortal Millôr Fernandes, uma fábula moderna, O Rato Que Tem Medo.
A fábula se encaixa perfeitamente aos professores coordenadores de todo esse nosso Brasil, que já foi mais varonil.
"Um dos fundadores da sociologia, o economista alemão Max Weber, conceitua o poder como sendo toda a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, obstante qualquer resistência e independentemente do fundamento dessa probabilidade.
Um dos exemplos mais simplórios e também um dos mais anacrônicos do exercício do poder está manifestado no membro administrativo de algumas corporações, com grau hierárquico executivo identificado simplesmente como “o chefe”.
“O chefe” é o personagem muitas vezes caricato que, encarnando o detentor de alguma forma de poder, tem muitas vezes seu grau de hierarquia oficializado por títulos sugestivos, tais como coordenador, gerente, diretor, supervisor, etc.
Independentemente do título, ser chefe é ter acesso privilegiado às informações e às decisões, e também a outros instrumentos administrativos que viabilizam o exercício desse poder, tais como a promoção e a demissão de seus subordinados, por exemplo.
No Brasil das corporações anacrônicas é comum se ouvir nos bastidores:
- O chefe tem sempre razão!
- Manda quem pode – e obedece quem tem juízo!
 E por aí vai.
 A infelicidade de tal prática, onde chefe é chefe e subordinado é subordinado (sendo a diferença muito nítida também no montante dos salários) geralmente está acompanhada pelo autoritarismo de uma parte e a subserviência da outra.
Talvez uma herança atávica do feudalismo, o exercício do micro poder diário das chefias nos convida a um questionamento filosófico também sobre o exercício diário da ética, que se traduz, na interpretação de muitos filósofos modernos, como sendo simplesmente o exercício da moral.
 Muitos chefes possuem um poder circunstancial. Mandam mas não lideram.
 E talvez por falta dessa mesma liderança ameacem, intimidem e se transmigrem amiúde na versão tragicômica de pequenos tiranos.
 Em síntese: um rato que ruge.
 E o que é pior, é que muitos desses chefes tiranos brotaram do plano comum de seus subordinados.
Quando então promovidos simplesmente “mudam de lado”.
 Talvez porque na maioria das corporações onde exista um chefe tirano, também existam subordinados que trabalhem direito apenas quando contam com uma “severa” supervisão.
 Flagra-se, portanto, a carência de moral, tanto de uma parte como de outra.
 Qual é a solução?
 Melhorando-se o subordinado, transformando-o em colaborador se melhoraria também a chefia?
 Ou trocando-se um chefe por um verdadeiro líder, a coisa toda mudaria de figura?
 Será?
Ou é do indivíduo que temos de falar – antes de mais nada?
 Para concluir este artigo e suscitar essa fabulosa reflexão – quero apresentar aqui minha releitura recorrente de uma das “Fábulas Fabulosas” de Millôr Fernandes:
  
“O rato que tem medo”
 A história é bem simples. Um rato que depois de muito sofrer pede para um grande mágico transformá-lo em um gato. Não suportava mais ser perseguido e intimidado.
 Nem bem foi transformado, ironicamente, passou a perseguir todos os ratos que encontrou. Porém, com inédita crueldade e efetiva precisão. Afinal conhecia com propriedade o modus operandi destrutivo dos ratos.
Viveu satisfeito até encontrar um cão – que então o persegue.
 Implora mais uma vez para que mágico o transforme, dessa vez em um cão, e assim, por efeito da magia vai subindo sucessivamente a escala zoológica até chegar na iminência de ser transformado em ser humano.
 Nessa passagem, o mágico, numa peripécia o transforma novamente num rato.
 - Mas por que voltei a ser rato?  – pergunta o animal, transbordando frustração.
 É com a sabedoria típica das fábulas que o Grande Mágico responde:
- De que adiantaria para o mundo mais um Homem com “coração de rato”!
Retirei o texto do excelente blog Hypescience. Desafio qualquer professor coordenador a se utilizar dessa fábula de Millôr em seus HTPCs.

POR UM PAÍS SOCIALISTA.


O protesto do dia 17/06/2013 foi um grande marco na história do Brasil. Eu estive lá e posso afirmar que tinha mais gente do que a mídia divulgou. Inicialmente a concentração se deu no Largo da Batata e depois percorremos outras ruas incluindo faria lima e a Brigadeiro... No fim a Paulista. Muito mais de 100 mil pessoas estavam naquele protesto revoltados com o aumento da passagem e com a mídia golpista, principalmente a REDE GLOBO, onde o grito de guerra contra esta emissora reacionária era #O POVO NÃO É BOBO ABAIXO A REDE GLOBO. Gritávamos também o #GIGANTE ACORDOU, mas  passado mais de um mês parece que o Gigante realmente dormiu. Assim me refiro porque agora seria hora de irmos para as ruas e lutarmos juntos pelo os 5 pactos que a nossa presidenta divulgou para nos ajudar nessa batalha. Conquista nossa. Só para lembrar a presidenta Dilma Rousseff foi a única estadista no mundo que ouviu as vozes vindas das ruas. Por exemplo, o plebiscito que ela propôs para a reforma política está parado no senado, o senado também até agora não votou, considerando crime hediondo, as corrupções causadas por políticos/parlamentares, diante de outras emendas que estão na geladeira e o nosso congresso insiste em fazer vista grossa. E nós? Onde esta o GIGANTE QUE ACORDOU? Precisamos focar nossos protestos contra aqueles que realmente estão paralisando esse país, visando apenas o poder do neoliberalismo sobre nossos direitos. E é visível que no parlamento do nosso Brasil vivem muitos parasitas interesseiros de olho apenas naquilo que possa satisfazer seus anseios particulares. Mais parecem urubus em cima da carniça. Entretanto nós devemos continuar porque a força do povo já mostrou que as coisas funcionam. Por outro lado a consciência política do nosso povo não está totalmente educada e por isso existem muitos oportunistas no meio dos protestos descaracterizando o movimento, as lutas. É preciso que fiquemos de olho aberto focando naquilo que é essencial. Apesar de saber que a luta de classes está inserida nesses protestos existem sim muitos interesses que podemos compartilhar juntos, portanto a classe trabalhadora com mais consciência política deve caminhar para ser majoritária nessa batalha. Como diria nosso mestre: TRABALHADORES DE TODO MUNDO UNI-VOS! Karl Marx.

Governador de São Paulo Geraldo Alckmim deve mostrar a conta.


Publicado em 27/10/2010

Fraude no Metrô: PT quer suspender licitação e afastar responsáveis

Fraude no Metrô: PT pede na Justiça suspensão de licitação e afastamento dos responsáveis.

    Na Justiça, o PT pede suspensão da licitação
    O Conversa Afiada reproduz comunicado do PT sobre a polêmica licitação do metrô de SP:

    Fraude no Metrô: PT pede na Justiça suspensão de licitação e afastamento dos responsáveis


    A Bancada  do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo está requerendo dos Ministérios Públicos Federais e Estadual a suspensão da licitação de concorrência dos lotes de 3 a 8 da Linha 5 (Lilás) do Metrô, cuja fraude foi denunciada nesta terça-feira (26/10), pelo jornal Folha de S. Paulo. (leia a notícia: http://www.ptalesp.org.br/bancada_ver.php?idBancada=2748).


    Os deputados do PT requerem que sejam expedidas liminares para a suspensão da referida concorrência (nº 41428212), determinar a preservação de todas as propostas comerciais apresentadas e que se determine o afastamento dos responsáveis até conclusão das investigações.


    A representação solicitada que seja aberto inquérito para apurar a ilegalidade, inconstitucionalidade e improbidade na conduta do ex e do atual governadores, José Serra e Alberto Goldman, respectivamente, do presidente do Metrô, José Jorge Fagali e do secretário estadual de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella.


    Caso Alstom e contrato da Linha 4


    As irregularidades existentes nas contratações do Metrô são conhecidas há tempos. Em 6/5/2008, o jornal Valor Econômico, reproduzindo o The Wall Street Journal, denunciou  supostos pagamentos de propinas pela empresa francesa Alstom, no valor aproximado de US$ 200 milhões, a autoridades de vários países da Ásia e da América Latina, entre as quais o Brasil.


    No Brasil, parcela das autoridades envolvidas nos indícios de recebimentos de propinas ocuparia cargos no Metrô.


    Outro problema de grande dimensão ocorrido no Metrô foi em relação ao contrato da Linha 4-Amarela, no qual o Metrô havia feito a exigência de utilização do equipamento conhecido como “tatuzão” – shield – eliminando do certame licitatório diversas empresas que estariam habilitadas para fazer as obras por outro método construtivo. Posteriormente, já assinado o contrato, a companhia alterou o método construtivo, deixando de exigir a utilização do equipamento.


    Se não bastasse, existem diversas suspeitas de irregularidades nos termos de aditamento contratual que alteraram os valores iniciais dos contratos. (veja a representação em: http://www.ptalesp.org.br/bancada_ver.php?idBancada=2752). 

     Fonte: Conversa Afiada/Paulo Henrique Amorim.

    Em protesto, ex-moradores do Pinheirinho fazem ocupação-relâmpago por 2 horas

    Em protesto, ex-moradores do Pinheirinho fazem ocupação-relâmpago por 2 horas


    Famílias denunciam abandono de terreno e exigem a construção de casas prometidas

    22/07/2013

    do Sindimetal/SJC

    Cerca de 400 pessoas voltaram a ocupar por duas horas o terreno do Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos, na sexta-feira (19). Os manifestantes realizaram um protesto contra a demora na construção de moradias para as famílias despejadas há um ano e meio.
    Os ex-moradores começaram a se concentrar às 8h em frente ao terreno da antiga ocupação e por volta das 9h entraram no local, ficando até as 11h. Lideranças da Associação Democrática por Moradia e Direitos Sociais (ADMDS) e centenas de famílias percorreram o antigo acampamento.
    Ao longo do trajeto, emoção e indignação dos ex-moradores. Onde antes havia centenas de casas, pequenos comércios, praças e igrejas, hoje existe um grande terreno baldio, tomado pelo mato.
    Mas o que gerou revolta foi encontrar um barracão com diversos móveis e utensílios domésticos dos ex-moradores. Na violenta desocupação, no dia 22 de janeiro de 2012, as famílias foram expulsas de suas casas e não puderam levar nada. Mas até hoje não tiveram de volta seus pertences.
    Depois dos moradores terem deixado a área na sexta-feira, um grupo não identificado colocou fogo no galpão, queimando os móveis que ainda restavam. Cerca de 100 carros, também deixados para trás no dia do despejo, estavam amontoados no meio do mato, porém, totalmente “depenados”, sem motor, bancos, peças etc.
     
    Chega de enrolação
    O protesto da sexta-feira teve por objetivo cobrar dos governos federal, estadual e municipal a construção das casas. Prefeitura e Governo do Estado anunciaram, após a desocupação, a construção de moradias às famílias do Pinheirinho. Também aconteceram negociações com a ADMDS para construção de casas. Porém, após um ano e meio, os ex-moradores seguem sem um teto, morando em condições precárias. O aluguel social de R$ 500 não é suficiente para pagar uma moradia em São José dos Campos.
    “É um absurdo que tenham jogado milhares de famílias na rua para, um ano e meio depois, o Pinheirinho voltar a ser um terreno baldio, sem função social. Pra que tanta violência e pressa para desocupar?”, disse o advogado das famílias, Toninho Ferreira.
    “Há um ano e meio estamos em negociações para garantir casas às famílias do Pinheirinho, mas até agora nenhum tijolo foi assentado, nem o terreno existe. Os governos estão enrolando e tratando com descaso um problema grave que eles mesmos criaram ao fazer uma desocupação violenta e ilegal. As famílias querem o que foi prometido: a construção de casas. A luta não vai parar”, afirmou o advogado das famílias.
    Fotos: Tanda Melo/Sindimetal/SJC

    Fonte: Brasil de Fato.

    Movimento Passe Livre sendo encurralado pela direita reacionária.


    Empresa ligada à Rede Globo está com os bens bloqueados

     

    segunda-feira, 22 de julho de 2013

    Empresa ligada à Rede Globo está com os bens bloqueados


    Amaury Ribeiro Jr. e Rodrigo Lopes: Globo tem bens bloqueados
    do Viomundo
    O Viomundo antecipa, com exclusividade, coluna que será publicada nas próximas horas pelo jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte:
    por Amaury Ribeiro JR e Rodrigo Lopes
    A Globopar, empresa ligada à TV Globo, está com parte de suas contas bancárias e bens bloqueados, devido a um dívida ativa de R$ 178 milhões com o Tesouro Nacional. De acordo com documentos conseguidos pelo Hoje em Dia na Justiça Federal do Rio de Janeiro, a dívida inscrita no cadastro de inadimplentes federais foi originada por várias sonegações de impostos federais.
    Por solicitação da Procuradoria da Fazenda Nacional do Rio de Janeiro, as contas bancárias da Infoglobo e a da empresa Globo LTDA também chegaram a ser bloqueadas. Mas os irmãos Marinho – Roberto Irineu, José Roberto e João Roberto – conseguiram autorização da Justiça para liberar o bens dessas duas últimas empresas no mês passado, na 26ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro.
    Inadimplente
    A dívida da Globopar, no entanto, já está inscrita no cadastro de inadimplentes do Tesouro Nacional, em fase de execução. Na semana passada, a Globo conseguiu adiar a entrega de seu patrimônio ao tesouro até que o processo transite em julgado.
    O Hoje em Dia também teve acesso ao processo que apurou o sumiço do inquérito de sonegação da Organizações Globo na compra dos direitos da transmissão da Copa de 2002.
    Receita Federal
    Um documento enviado pela Receita à Justiça em 2010 comprova, ao contrário do que a emissora divulgou, que a dívida de R$ 600 milhões nunca foi paga. A papelada comprova ainda que o Ministério Público Federal ao ser avisado sobre operações de lavagem de dinheiro entre a Globo e a Fifa nas Ilhas Virgens Britânicas prevaricou muito.
    Omissão
    Ao invés de solicitar investigação à Polícia Federal, preferiu emitir um parecer que atesta não ter ocorrido nenhum ato ilícito nas transações nas Ilhas Virgens. Um inquérito criminal contra os irmãos Marinho chegou a ser instaurado, mas também sumiu das dependências da Receita Federal.
    Não bastasse toda essa confusão, a Globopar continua sonegando. E como nunca. Nos últimos dois anos, a empresa foi notificada 776 vezes pela Receita Federal por sonegação fiscal.
    Equipamentos
    A maior parte dessas autuações envolve a apreensão de equipamentos, sem o recolhimento de impostos, no aeroporto do Galeão, no Rio De Janeiro. Para um bom entendedor a Globopar é uma empresa contumaz na prática do descaminho.
    Verba publicitária
    O ministério da Comunicação do governo Dilma Rousseff e os demais governantes desatentos liberaram verba para empresa inadimplente com a União, o que constitui-se ato de improbidade administrativa. A liberação pode ser comprovada no site do Ministério da Fazenda.

    Postado em: 31 mai 2013 às 17:26

    Amado Batista e a tortura. Merecem reflexões as declarações do cantor que diz ter merecido a tortura por ter feito coisas erradas e os torturadores o corrigiram como uma mãe corrige um filho

    Urariano Mota, Direto da Redação
    As declarações do cantor Amado Batista no programa “De frente com Gabi”, do SBT, merecem um pouco mais de reflexão. As notícias registram que assim falou o astro da canção brega:
    “Eu acho que mereci a tortura. Fiz coisas erradas, os torturadores me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho. Acho que eu estava errado por estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força. Fui torturado, mas mereci”.
    amado batista tortura
    Amado Batista, o homem que diz ter merecido a tortura. Nenhum outro torturado na história da humanidade concorda com o cantor. Muito ao contrário, os relatos de perversidade impressionam. (Foto: Divulgação)
    A reflexão sobre uma frase assim não deve ir pelo caminho do deboche, no gênero da última comédia stand-up, que tudo avacalha como se a vida fosse uma só avacalhação. Portanto, não diremos que há pessoas que gostam de espancar, e outras que adoram ser espancadas. Nem tampouco diremos que no cantor de triste nome Amado sobrevive a síndrome de Estocolmo, aquela em que a vítima passa a se identificar emocionalmente com a tortura que sofreu do criminoso, pois tem medo de maior violência. Esse mal cairia melhor em Geraldo Vandré. Não, o caso Amado Batista é outro. Tentarei refletir por um segundo caminho, em duas ou três coisas.
    A primeira coisa que destaco na frase do cantor Amado é a mentira, sob duas faces. Na que mais aparece, a mentira objetiva, da realidade a que se refere, pois a ninguém deve ser dada a punição da tortura, e no caso de Amado com o agravo do adjetivo “merecida”. Na outra face, mentira subjetiva mesmo, porque o não muito Amado desloca a dor sofrida para a felicidade da ética, aquela em que fazemos o justo, ainda que seja desconfortável. Por que esse deslocamento? A sua queda na consciência amoral deve ter ocorrido por motivos que ele não declara. Que bom acordo seguiu Amado Batista ao sair da tortura para o sucesso? É claro, todo conformista fala que as pessoas têm que sobreviver. Mas seria reveladora a apresentação da amada conta. Qual foi o seu valor?
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    A segunda coisa é a vitória parcial do conservadorismo, da repressão, que se encontra na raiz do espírito de escravo e da história da escravidão no Brasil. Amado Batista fala como um escravo que saiu da senzala e se vestiu de senhor. Ele fala como um escravo agraciado que acha justo o pelourinho porque alguma coisa de ruim o homem – ou parecido com homem – que sofre a tortura fez. Castigo merecido, ele declara. E nesse particular, Amado Batista é o retrato de um Brasil oprimido que sobrevive. Os pobres cujo espírito não se liberta da pobreza carregam por toda a vida o respeito à ordem e à autoridade. Se um miseráavel ou marginalizado recebe a morte ou o espancamento, ele fez por merecer, dizem. Em um Brasil que atravessa a recuperação dolorosa da memória, a frase de Amado Batista é um escárnio. Nesta semana, as ex-presas Dulce Pandolfi e Lúcia Murat expuseram com a verdade o que é a tortura: estupros, abjeção além do limite, exemplos nos próprios corpos de aulas para torturadores.
    A terceira e última coisa a destacar no escárnio stand-up, do saudoso da humilhação Amado Batista, é a ignorância, o nível de apreensão da vida, da sociedade, que não se confunde com a ignorância de muitos homens e artistas iletrados. João do Vale, ou Vitalino dos bonecos de barro, marginalizados que foram do ensino nas escolas formais, jamais sorririam assim dos choques sofridos no pau de arara. Esse nível do cantor de injusta alcunha Amado se reflete melhor, creio, nas letras que a sua arte comete. Não precisam escutar, leiam um dos seus poemas cantados:
    “Princesa, a deusa da minha poesia, ternura da minha alegria, nos meu sonhos quero te ver. Princesa, a musa dos meus pensamentos, enfrento a chuva e o mau tempo pra poder um pouco te ver”.
    E agora comparem, enfim, a justeza e boa ética da tortura, que pune os criminosos na frase de Amado Batista, com as palavras de Dulce Pandolfi: “Dois meses depois da minha prisão e já dividindo a cela com outras presas, servi de cobaia para uma aula de tortura. O professor, diante de seus alunos, fazia demonstrações com o meu corpo. Era uma espécie de aula prática com algumas dicas teóricas“. E nas de Lúcia Murat: “A tortura era prática da ditadura, e nós sabíamos disso pelo relato dos companheiros que tinham sido presos antes. Mas nenhuma descrição seria comparável ao que eu vim a enfrentar. Não porque tenha sido mais torturada do que os outros, mas porque o horror é indescritível“. Tamanha era a dor e destruição que Lúcia tentou se matar duas vezes.
    Tortura, a deusa da sua poesia, Amado Batista enfrentou a chuva e o mau tempo pra poder um pouco te ver.

    Postado em: 4 jul 2013 às 10:26

    Caso Evo Morales/Edward Snowden mostra que União Europeia é um engodo político e diplomático, sempre subserviente às exigências de Washington

    Por Salim Lamrani
    O caso Edward Snowden está na raiz de um grave incidente diplomático entre a Bolívia e vários países europeus. Por ordem de Washington, França, Itália, Espanha e Portugal proibiram o avião presidencial de Evo Morales de sobrevoar seus territórios.
    1 – Depois de uma viagem oficial à Rússia para assistir a uma cúpula de países produtores de gás, o presidente Evo Morales pegou seu avião para voltar à Bolívia.
    2 – Os Estados Unidos, pensando que Edward Snowden, ex-agente da CIAe da NSA, autor das revelações sobre as operações de espionagem de seu país, estava no avião presidencial, ordenou que quatro países europeus – França, Itália, Espanha e Portugal – proibissem que Evo Morales sobrevoasse seus respectivos espaços aéreos.
    3 – Paris cumpriu imediatamente a ordem procedente de Washington e cancelou a autorização de sobrevoo de seu território, que havia outorgado à Bolívia em 27 de julho de 2013, enquanto o avião presidencial estava a apenas alguns quilômetros das fronteiras francesas.
    4 – Assim, Paris colocou em perigo a vida do presidente boliviano que, por falta de combustível, precisou fazer uma aterrissagem de emergência na Áustria.
    5 – Desde 1945, nenhuma nação do mundo impediu um avião presidencial de sobrevoar seu território.
    6 – Paris, além de desatar uma crise de extrema gravidade, violou o direito internacional e a imunidade diplomática absoluta da qual todo chefe de Estado goza.
    7 – O governo socialista de François Hollande atentou gravemente ao prestígio da nação. A França aparece diante dos olhos do mundo como um país servil e dócil que não vacila um instante sequer para obedecer as ordens de Washington, contra seus próprios interesses.
    8 – Ao tomar tal decisão, Hollande desprestigiou a voz da França no cenário internacional.
    edward snowden evo morales
    Edward Snowden nunca esteve no avião de Evo Morales (Imagem: Reprodução)
    9 – Paris também se tornou alvo de piada no mundo inteiro. As revelações feitas por Edward Snowden permitiram descobrir que os Estados Unidos espiavam vários países da União Europeia, entre os quais a França. Diante dessas revelações, François Hollande pediu pública e firmemente a Washington que parasse com esses atos hostis. Ainda assim, por debaixo dos panos, o Palácio do Eliseu seguiu fielmente as ordens da Casa Branca.
    10 – Depois de descobrir que se tratava de uma informação falsa e que Snowden não estava no avião, Paris decidiu anular a proibição.
    11 – Itália, Espanha e Portugal também seguiram as ordens de Washington e proibiram Evo Morales de sobrevoar seu território, antes de mudar de opinião, quando souberam que a informação não era verídica, e permitir que o presidente boliviano seguisse sua rota.
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    12 – Antes disso, a Espanha até exigiu revistar o avião presidencial, violando todas as normas legais internacionais. “Isto é uma chantagem; não vamos permitir por uma questão de dignidade. Vamos esperar todo o tempo necessário”, respondeu o presidente boliviano. “Não sou um criminoso”, declarou Evo Morales.
    13 – A Bolívia denunciou um atentado contra sua soberania e contra a imunidade de seu presidente. “Trata-se de uma instrução do governo dos Estados Unidos”, segundo La Paz.
    14 – América Latina condenou unanimemente a atitude da França, Espanha, Itália e Portugal.
    15 – A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) convocou em caráter de urgência uma reunião extraordinária após esse escândalo internacional e expressou sua “indignação” por meio de seu Secretário-Geral, Ali Rodríguez.
    16 – A Venezuela e o Equador condenaram “a ofensa” e “o atentado” contra o presidente Evo Morales.
    17 – O presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, condenou “uma agressão grosseira, inadequada e não civilizada”.
    18 – O presidente equatoriano, Rafael Correa, expressou sua indignação: “Nossa América não pode tolerar tanto abuso!”.
    19 – A Nicarágua denunciou “uma ação criminosa e bárbara”.
    20 – Havana fustigou o “ato inadmissível, infundado, arbitrário que ofende toda a América Latina e o Caribe”.
    21 – A presidente argentina, Cristina Kirchner, expressou sua consternação: “Definitivamente, estão todos loucos. O chefe de Estado e seu avião têm imunidade total. Não pode haver esse grau de impunidade”.
    22 – Por meio de seu Secretário-Geral José Miguel Insulza, a OEA (Organização dos Estados Americanos) condenou a decisão dos países europeus: “Não existe justificativa alguma para cometer tais ações em detrimento do presidente da Bolívia. Os países envolvidos devem dar uma explicação das razões pelas quais tomaram essa decisão, particularmente porque isso colocou em risco a vida do primeiro mandatário de um país-membro da OEA”.
    23 – A Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) denunciou “uma flagrante discriminação e ameaça à imunidade diplomática de um Chefe de Estado”.
    24 – Em vez de outorgar o asilo político à pessoa que lhe permitiu descobrir que era vítima de espionagem hostil, a Europa, particularmente a França, não vacila em criar uma grave crise diplomática com o objetivo de entregar Edward Snowden aos Estados Unidos.
    25 – Esse caso ilustra que, se a União Europeia é uma potência econômica, é também um engodo político e diplomático incapaz de adotar uma postura independente em relação aos Estados Unidos.
    * Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista (Opera Mundi)

      Fonte: P Pragmatismo Político

    O significado e as perspectivas das mobilizações de rua


    Para João Pedro Stedile, a juventude mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta ideológica. Assim, estão sendo disputados pelas ideias da direita e da esquerda
    25/06/2013

    Nilton Viana
    da Redação

    É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro. Essa é uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre as recentes mobilizações em todo o país. Segundo ele, há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo financeiro. “As pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais”, afirma. Para o dirigente do MST, a redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe livre, que soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo.
    Nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Stedile fala sobre o caráter dessas mobilizações, e faz um chamamento: devemos ter consciência da natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. “A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil”, constata. E faz uma alerta: o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. As forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas as suas energias para ir para a rua, pois está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. “Precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo”.

    Brasil de Fato – Como você analisa as recentes manifestações que vêm sacudindo o Brasil nas últimas semanas? Qual é a base econômica para elas terem acontecido?

       
       João Pedro Stedile, da coordenação do MST - Foto: José Cruz/ABr
    João Pedro Stedile – Há muitas avaliações sobre por que estão ocorrendo estas manifestações. Me somo à análise da professora Ermínia Maricato, que é nossa maior especialista em temas urbanos e já atuou no Ministério das Cidades na gestão Olívio Dutra. Ela defende a tese de que há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo financeiro. Houve uma enorme especulação imobiliária que elevou os preços dos aluguéis e dos terrenos em 150% nos últimos três anos. O capital financiou – sem nenhum controle governamental – a venda de automóveis para enviar dinheiro para o exterior e transformou nosso trânsito um caos. E, nos últimos dez anos, não houve investimento em transporte público. O programa habitacional Minha casa, minha vida empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infraestrutura. Tudo isso gerou uma crise estrutural, em que as pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais. Somado a isso, a péssima qualidade dos serviços públicos, em especial na saúde e mesmo na educação, desde a escola fundamental, ensino médio, em que os estudantes saem sem saber fazer uma redação. E o ensino superior virou loja de vendas de diplomas a prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.

    Do ponto de vista político, por que isso aconteceu?
    Os 15 anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de composição de classes transformou a forma de fazer política em refém apenas dos interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas práticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses. Toda a juventude nascida depois das Diretas Já não teve oportunidade de participar da política. Hoje, para disputar qualquer cargo, por exemplo, o de vereador, o sujeito precisa ter mais de um milhão de reais. O de deputado custa ao redor de dez milhões de reais. Os capitalistas pagam e depois os políticos os obedecem. A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil. Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E, portanto, gerou na juventude uma ojeriza à forma dos partidos atuarem. E eles têm razão. A juventude não é apolítica, ao contrário, tanto é que levou a política para as ruas, mesmo sem ter consciência do seu significado. Mas está dizendo que não aguenta mais assistir na televisão essas práticas políticas que sequestraram o voto das pessoas, baseadas na mentira e na manipulação. E os partidos de esquerda precisam reapreender que seu papel é organizar a luta social e politizar a classe trabalhadora. Senão cairão na vala comum da história.

    E por que as manifestações eclodiram somente agora?
    Provavelmente tenha sido mais pela soma de diversos fatores de caráter da psicologia de massas, do que por alguma decisão política planejada. Somou-se todo o clima que comentei, mais as denúncias de superfaturamento das obras dos estádios, que é são um acinte ao povo. Vejam alguns episódios. A Rede Globo recebeu do governo do estado do Rio de Janeiro e da prefeitura R$ 20 milhões do dinheiro público para organizar o showzinho de apenas duas horas do sorteio dos jogos da Copa das Confederações. O estádio de Brasília custou R$ 1,4 bilhão e não tem ônibus na cidade! A ditadura explícita e as maracutaias que a Fifa/CBF impuseram e que os governos se submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro. As fotos eram claras, no maior templo do futebol mundial não havia nenhum negro ou mestiço! E aí o aumento das tarifas de ônibus foi apenas a faísca para acender o sentimento generalizado de revolta, de indignação. A gasolina para a faísca veio do governo tucano Geraldo Alckmin, que protegido pela mídia paulista que ele financia, e acostumado a bater no povo impunemente – como fez no Pinheirinho e em outros despejos rurais e urbanos – jogou sua polícia para a barbárie. Aí todo mundo reagiu. Ainda bem que a juventude acordou. E nisso houve o mérito do Movimento Passe Livre, que soube capitalizar essa insatisfação popular e organizou os protestos na hora certa.

    Por que a classe trabalhadora ainda não foi à rua?
    É verdade, a classe trabalhadora ainda não foi para a rua. Quem está na rua são os filhos da classe média, da classe media baixa, e também alguns jovens do que o Andre Singer chamaria de subproletariado, que estudam e trabalham no setor de serviços, que melhoraram as condições de consumo, mas querem ser ouvidos. Esses últimos apareceram mais em outras capitais e nas periferias. A redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe livre, soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo. E o povo apoiou as manifestações. Isso está expresso nos índices de popularidade dos jovens, sobretudo quando foram reprimidos. A classe trabalhadora demora a se mover, mas quando se move afeta diretamente o capital. Coisa que ainda não começou acontecer. Acho que as organizações que fazem a mediação com a classe trabalhadora ainda não compreenderam o momento e estão um pouco tímidas. Mas a classe, como classe, acho que está disposta a também lutar. Veja que o número de greves por melhorias salariais já recuperou os padrões da década de 1980. Acho que é apenas uma questão de tempo, é só as mediações acertarem nas bandeiras que possam motivar a classe a se mexer. Nos últimos dias já se percebe que em algumas cidades menores e nas periferias das grandes cidades já começam a ter manifestações com bandeiras de reivindicações bem localizadas. E isso é muito importante.

    Vocês do MST e dos camponeses também não se mexeram ainda...
    É verdade. Nas capitais onde temos assentamentos e agricultores familiares mais próximos já estamos participando. Inclusive, sou testemunha de que fomos muito bem recebidos com nossa bandeira vermelha e com nossa reivindicação de reforma agrária, alimentos saudáveis e baratos para todo o povo. Acho que nas próximas semanas poderá haver uma adesão maior, inclusive realizando manifestações dos camponeses nas rodovias e municípios do interior. Na nossa militância está todo mundo doido para entrar na briga e se mobilizar. Espero que também se mexam logo.

    Na sua opinião, qual é a origem da violência que tem acontecido em algumas manifestações?
    Primeiro vamos relativizar. A burguesia, através de suas televisões, tem usado a tática de assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros e quebra-quebra. São minoritários e insignificantes diante das milhares de pessoas que se mobilizaram. Para a direita, interessa colocar no imaginário da população que isso é apenas bagunça e no final, se tiver caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença das Forças Armadas. Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a guarda nacional e as Forças Armadas para reprimir as manifestações. É tudo o que a direita sonha! Quem está provocando as cenas de violência é a forma de intervenção da Policia Militar. A PM foi preparada desde a ditadura militar para tratar o povo sempre como inimigo. E nos estados governados pelos tucanos (SP, RJ e MG), ainda tem a promessa de impunidade. Há grupos direitistas organizados com orientação de fazer provocações e saques. Em são Paulo, atuaram grupos fascistas e leões de chácaras contratados. No Rio de Janeiro, atuaram as milícias organizadas que protegem seus políticos conservadores. E claro, há também um substrato de lumpesinato que aparece em qualquer mobilização popular, seja nos estádios, carnaval, até em festa de igreja, tentando tirar seus proveitos.

    PM reprime manifestação em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF) - Foto: Felipe Canova
    Há, então, uma luta de classes nas ruas ou é apenas a juventude manifestando sua indignação?
    É claro que há uma luta de classes na rua. Embora ainda concentrada na disputa ideológica. E o que é mais grave, a própria juventude mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta ideológica. Eles estão fazendo política da melhor forma possível, nas ruas. E aí escrevem nos cartazes: somos contra os partidos e a política? Por isso têm sido tão difusas as mensagens nos cartazes. Está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. Os jovens estão sendo disputados pelas ideias da direita e pela esquerda. Pelos capitalistas e pela classe trabalhadora. Por outro lado, são evidentes os sinais da direita muito bem articulada e de seus serviços de inteligência, que usam a internet, se escondem atrás das máscaras e procuram criar ondas de boatos e opiniões pela internet. De repente, uma mensagem estranha alcança milhares de mensagens. E aí se passa a difundir o resultado como se ela fosse a expressão da maioria. Esses mecanismos de manipulação foram usados pela CIA e pelo Departamento de Estado Estadunidense, na Primavera Árabe, na tentativa de desestabilização da Venezuela, na guerra da Síria. É claro que eles estão operando aqui também para alcançar os seus objetivos.

    E quais são os objetivos da direita e suas propostas?
    A classe dominante, os capitalistas, os interesses do império Estadunidense e seus porta-vozes ideológicos, que aparecem na televisão todos os dias, têm um grande objetivo: desgastar ao máximo o governo Dilma, enfraquecer as formas organizativas da classe trabalhadora, derrotar quaisquer propostas de mudanças estruturais na sociedade brasileira e ganhar as eleições de 2014, para recompor uma hegemonia total no comando do Estado brasileiro, que agora está em disputa. Para alcançar esses objetivos, eles estão ainda tateando, alternando suas táticas. Às vezes, provocam a violência para desfocar os objetivos dos jovens.
    Às vezes, colocam nos cartazes dos jovens a sua mensagem. Por exemplo, a manifestação do sábado (22), embora pequena, em São Paulo, foi totalmente manipulada por setores direitistas que pautaram apenas a luta contra a PEC 37, com cartazes estranhamente iguais e palavras de ordem iguais. Certamente, a maioria dos jovens nem sabem do que se trata. E é um tema secundário para o povo, mas a direita está tentando levantar as bandeiras da moralidade, como fez a UDN em tempos passados. Isso que já estão fazendo no Congresso, logo, logo vão levar às ruas. Tenho visto nas redes sociais controladas pela direita, que suas bandeiras, além da PEC 37 são: saída do Renan do Senado; CPI e transparência dos gastos da Copa; declarar a corrupção crime hediondo e fim do foro especial para os políticos. Já os grupos mais fascistas ensaiam Fora Dilma e abaixo-assinados pelo impeachment. Felizmente, essas bandeiras não têm nada a ver com as condições de vida das massas, ainda que elas possam ser manipuladas pela mídia. E, objetivamente podem ser um tiro no pé. Afinal, é a burguesia brasileira, seus empresários e políticos que são os maiores corruptos e corruptores. Quem se apropriou dos gastos exagerados da copa? A Rede Globo e as empreiteiras!

    Nesse cenário, quais os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora e as organizações populares e partidos de esquerda?
    Os desafios são muitos. Primeiro devemos ter consciência da natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência na luta de classes. Segundo, a classe trabalhadora precisa se mover, ir para a rua, manifestar-se nas fábricas, campos e construções, como diria Geraldo Vandré. Levantar suas demandas para resolver os problemas concretos da classe, do ponto de vista econômico e político. Terceiro, precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo. E agora são os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa economia, os latifundiários do agronegócio e os especuladores. Precisamos tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a aprovação do projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas; exigir que a prioridade de investimentos públicos seja em saúde, educação, reforma agrária. Mas para isso, o governo precisa cortar juros e deslocar os recursos do superávit primário, aqueles R$ 200 bilhões que todo ano vão para apenas 20 mil ricos, rentistas, credores de uma dívida interna que nunca fizemos, deslocar para investimentos produtivos e sociais. É isso que a luta de classes coloca para o governo Dilma: os recursos públicos irão para a burguesia rentista ou para resolver os problemas do povo? Aprovar em regime de urgência para que vigore nas próximas eleições uma reforma política de fôlego, que, no mínimo institua o financiamento publico exclusivo da campanha. Direito a revogação de mandatos e plebiscitos populares autoconvocados. Precisamos de uma reforma tributaria que volte a cobrar ICMS das exportações primárias e penalize a riqueza dos ricos, e amenize os impostos dos pobres, que são os que mais pagam. Precisamos que o governo suspenda os leilões do petróleo e todas as concessões privatizantes de minérios e outras áreas publicas. De nada adianta aplicar todo os royalties do petróleo em educação, se os royalties representarão apenas 8% da renda petroleira, e os 92% irão para as empresas transnacionais que vão ficar com o petróleo nos leilões! Uma reforma urbana estrutural, que volte a priorizar o transporte público, de qualidade e com tarifa zero. Já está provado que não é caro, e nem difícil instituir transporte gratuito para as massas das capitais. E controlar a especulação imobiliária. E, finalmente, precisamos aproveitar e aprovar o projeto da Conferência Nacional de Comunicação, amplamente representativa, de democratização dos meios de comunicação. Assim, acabar com o monopólio da Globo, para que o povo e suas organizações populares tenham amplo acesso a se comunicar, criar seus próprios meios de comunicação, com recursos públicos. Ouvi de diversos movimentos da juventude que estão articulando as marchas que talvez essa seja a única bandeira que unifica a todos: abaixo o monopólio da Globo! Mas, para que essas bandeiras tenham ressonância na sociedade e pressionem o governo e os políticos, é imprescindível a classe trabalhadora se mover.

    O que o governo deveria fazer agora?
    Espero que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar. E mudar a favor do povo. Para isso o governo precisa enfrentar a classe dominante, em todos os aspectos. Enfrentar a burguesia rentista, deslocando os pagamentos de juros para investimentos em áreas que resolvam os problemas do povo. Promover logo as reformas políticas, tributárias. Encaminhar a aprovação do projeto de democratização dos meios de comunicação. Criar mecanismos para investimento pesados em transporte público, que encaminhem para a tarifa zero. Acelerar a reforma agrária e um plano de produção de alimentos sadios para o mercado interno. Garantir logo a aplicação de 10% do PIB em recursos públicos para a educação em todos os níveis, desde as cirandas infantis nas grandes cidades, ensino fundamental de qualidade até a universalização do acesso dos jovens a universidade pública. Sem isso, haverá uma decepção e o governo entregará para a direita a iniciativa das bandeiras, que levarão a novas manifestações, visando desgastar o governo até as eleições de 2014. É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro.

    E que perspectivas essas mobilizações podem levar para o país nos próximos meses?
    Tudo ainda é uma incógnita, porque os jovens e as massas estão em disputa. Por isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas suas energias, para ir para a rua. Manifestar-se, colocar as bandeiras de luta de reformas que interessam ao povo. Porque a direita vai fazer a mesma coisa e colocar as suas bandeiras conservadoras, atrasadas, de criminalização e estigmatização das ideias de mudanças sociais. Estamos em plena batalha ideológica, que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, em cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem ficar de fora, ficará de fora da historia.
    Foto: Marcelo Camargo/ABr

    Fonte: Brasil de Fato.

    Fundador do MPL fala sobre o movimento, as jornadas de junho e o Tarifa Zero

    Marcelo Pomar, que participou da fundação do Passe Livre, hoje é um dos principais quadros teóricos do movimento
    22/07/2013



    do Coletivo Maria Tonha


       
       Marcelo Pomar - Foto: Reprodução
    Aos 19 minutos e 23 segundos de "Impasse", documentário sobre as lutas contra o aumento da tarifa em Florianópolis, há uma cena que tem lugar no Fórum Social Mundial de 2005, ocorrido em Porto Alegre. Nela, Marcelo Pomar aparece segurando um microfone e lendo uma carta de princípios de uma organização “apartidária, mas não anti-partidária”. Era a plenária de fundação do Movimento Passe Livre, o MPL.
    Oito anos mais tarde, o MPL vive seu momento de maior fama. Isso graças ao seu papel indutor nos protestos contra o aumento da tarifa de transporte público em São Paulo, que posteriormente acabaram se desdobrando em protestos massivos por todo o Brasil.
    Já Marcelo Pomar, hoje com 33 anos, graduado em História pela Udesc e professor de xadrez, não está mais no dia a dia do MPL por conta do atual trabalho – é assessor de uma parlamentar na Assembleia Legislativa de Santa Catariana – mas segue sendo um dos principais quadros teóricos do movimento. Já falou no TEDxFloripa, em 2011, em apresentação intitulada “Por uma vida sem catracas”. No último dia 10 de julho, discursou no plenário da Câmara, em Brasília, em que comentou os recentes protestos que acometeram o país, além também de ter discorrido sobre o projeto Tarifa Zero.
    O coletivo Maria Tonha realizou uma longa entrevista com Marcelo para falar sobre a fundação do MPL, as Jornadas de Junho e o Tarifa Zero. O texto da entrevista foi dividido em duas partes. A primeira você acompanha abaixo.

    Passe Livre como reivindicação histórica
    "Na realidade, temos que voltar um pouco no tempo para entender como se chegou à fundação do MPL. O passe livre é uma reivindicação histórica do movimento estudantil. Desde pelo menos o final dos anos 80 no Rio de Janeiro há movimentos desse tipo, com inclusive uma movimentação histórica quando o Brizola já era governador do estado. Os estudantes conseguiram garantir esse direito no Rio, e até hoje esse direito existe, de forma meio capenga, por conta de liminares de empresas de ônibus – vira e mexe esse direito é contestado. Então, depois da abertura política de 1985, o passe livre passou a fazer parte do ideário do conjunto de reivindicações históricas do movimento estudantil brasileiro, em especial o secundarista. Nós não inventamos essa história."

    A campanha pelo Passe Livre em Florianópolis
    "O que ocorre é que em 2000 nós tínhamos um grupo aqui em Florianópolis relativamente organizado que fazia parte de uma organização de juventude ligada ao PT chamada Juventude Revolução. Nós resolvemos em um grupo relativamente pequeno à época tocar uma campanha pelo passe livre aqui na cidade. Essa campanha acabou tomando corpo. À época nós tínhamos muito tempo livre, já que o movimento estudantil tem essa vantagem da a gente poder fazer bastante atividade. Nós mapeamos as escolas da cidade, fizemos um bom trabalho de base levando esse debate do passe livre, e realizamos uma série de manifestações de pequeno e médio porte entre os anos 2000 e 2004 que eu considero que criou um conjunto de condições subjetivas pra que em 2004 nós tivéssemos uma grande movimentação em Florianópolis, que ficou conhecida como a Revolta da Catraca. Essa revolta abrange os anos de 2004 e 2005 em que ocorreram dois movimentos grandiosos, movimentos de massa em Florianópolis, com cerca de 15 a 20 mil pessoas, o que para uma cidade de 400 mil habitantes é um negócio bastante significativo. Foram movimentos que por dois anos seguidos barraram o aumento das tarifas, em 2004 e 2005.
    "Em 2004 nós já somos um grupo completamente distinto do grupo que começou essas movimentações em 2000. Isso porque em 2002 nós rompemos com a Juventude Revolução. Na verdade nós somos expulsos dela porque a gente começou a desenvolver uma tese de que a juventude deveria ser independente, quer dizer, deveria fazer suas próprias experiências e não deveria estar tutelada por uma organização adulta, fosse ela vinculada a um partido ou não. Em 2004 nós já éramos um grupo amplo, de frente única, que reunia várias organizações partidárias e muitos jovens independentes. E foram basicamente esses jovens independentes que acabaram tocando a coisa a partir de 2002 junto com esse grupo que foi expulso da Juventude Revolução.
    "Não dá pra negar a importância da Juventude Revolução na gênese desse processo. Mas o que se tinha já em 2002, 2003, era um negócio muito mais amplo, que não tinha mais relação propriamente com a Juventude Revolução, e que era a campanha pelo passe livre, que reunia diversos jovens de grêmios, muitos deles sem nenhum tipo de vinculação a organização, a instituição ou partido político. Já era um processo genuíno, um processo diferente e singular."

    Revolta do Buzú
    "Tudo isso consistiu em um conjunto de fatores subjetivos, quer dizer, ajudou a criar condições para que a gente pudesse ter um caldo de mobilização em Florianópolis para lutar por esse tema do transporte coletivo, inicialmente pelo passe livre, depois pela redução das tarifas. Também contribuiu para esse caldo subjetivo um grande movimento que aconteceu em agosto de 2003, em Salvador, que ficou conhecido como a Revolta do Buzú. Na época, circulava pelo Brasil um filme do cineasta argentino Carlos Prozac chamado Revolta do Buzú. Esse filme a gente passou nas escolas e nos serviu de grande estímulo. Ele demonstrava inclusive um perfil novo de juventude, mais desligado das entidades estudantis tradicionais, mas que estava disposto ao combate e em organização para luta por reivindicações. Nós nos identificamos muito com aquele movimento de Salvador. Então isso é um pouco do cenário desse caldo que nós tínhamos até 2004."

    As questões objetivas
    "Havia também um conjunto de questões que considero objetivas e que estão ligadas à questão material do problema do transporte no Brasil. Uma questão estrutural mesmo. Nós tivemos de 1994 até 2004 um período de 10 anos de relativo controle inflacionário, de estabilidade da moeda, por conta do Plano Real. E, no entanto, em Florianópolis, as tarifas de ônibus aumentaram em um valor de quase 250% nesse período, ao passo que você não tem nenhuma categoria de trabalhador que recebeu qualquer tipo de aumento salarial similar a isso. Em Florianópolis, em especial, esses aumentos foram muito significativos. Outro agravante foi que, em 2003, criaram um sistema integrado de transportes que mudou radicalmente a forma pela qual as pessoas se deslocavam na cidade e isso causou muita revolta, muita indignação. No final de maio de 2004, a prefeita de Florianópolis, que à época era a Ângela Amim, do PP, decidiu dar um aumento no preço da passagem de 28%, um reajuste bastante alto. Então aquilo criou todas as condições para que nós tivéssemos uma onda muito forte de manifestação."

    Criar um movimento nacional
    "Em 2004, em Florianópolis, explode essa manifestação grande que tem uma vitória expressiva que foi a redução dos preços das tarifas. E a gente começa a pensar o seguinte: 'Olha, como é que a gente se conecta com outros jovens do Brasil que estão nessa luta? Que veem no que a gente fez aqui uma referência, e que tem mais ou menos proximidade política com o que nós estamos pensando?'. Era uma forma de pensar em organização propriamente. Até porque como nós não tínhamos mais esse vínculo com organizações estabelecidas, como a Juventude Revolução ou a Juventude do PT, nós achávamos que era necessário ter uma organização própria que fizesse um movimento social de característica urbana e que discutisse a questão do transporte coletivo, em especial a do passe livre. Daí surgiu a ideia de fundar o MPL. Uma organização que juntasse essas várias lutas do Brasil em torno do transporte, sobretudo em relação ao passe livre. Nós fizemos em novembro de 2004 um primeiro encontro. Esse encontro foi em Florianópolis e foi bastante bizarro. Deu uns grupos maoístas, deu tudo quanto é tipo de grupo. Foi num camping no norte da ilha, nos Ingleses. Foi uma experiência, e depois disso nós decidimos fazer um encontro nacional em Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial, em 2005. Fomos incentivados principalmente por Florianópolis por conta da experiência que nós tivemos, e por alguns contatos que nós tínhamos – e aí entra em particular uma outra organização que nos ajudou, sobretudo do ponto de vista de comunicação nacional, que foi o CMI (Centro de Mídia Independente). E por isso, nesse processo embrionário do MPL, o CMI deu uma ajuda principalmente no que diz respeito à comunicação entre esses grupos. Assim, em janeiro de 2005, é fundado oficialmente o Movimento Passe Livre nacional.
    "O MPL nasce acho que em 11 capitais, o que para um grupo como o nosso era um grande feito, porque na realidade nós não tínhamos uma grande estrutura, não tínhamos nenhum partido por trás, nenhuma organização de peso, o próprio CMI não era uma organização de peso, embora tivesse relações internacionais. Então ele já nasce de certa forma forte. Em 2005 a gente volta a ter um movimento de luta, de jornadas importantes, barra de novo o aumento da tarifa em Florianópolis. E a gente começa a ver jornadas de luta em vários lugares do Brasil, que, de alguma forma, o MPL também incentivou."

    Do Passe Livre Estudantil ao Tarifa Zero
    "Desde fevereiro de 2011, eu contribuo de maneira mais distante com o MPL. Como fui prestar assessoria política para um mandato da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, tomei a decisão de não ter uma relação orgânica, cotidiana com o movimento, porque eu achava que isso de certa forma também não seria bom, não seria produtivo. Mas eu continuo contribuindo, sobretudo no que diz respeito à elaboração teórica e às questões políticas do movimento. Porque o movimento tem um momento de virada muito importante, há um período de refluxo nos movimentos de rua no MPL, sobretudo em 2008, 2009, que é combinado, e isso não aconteceu de maneira pensada, mas acabou sendo assim, com um período de aprofundamento da temática. O MPL para de discutir passe livre dos estudantes, ou a reivindicação pequena, menor, e começa a entender o contexto do direito à cidade. Quer dizer, a gente tem uma transição para o Tarifa Zero. Porque o passe livre é reivindicação historicamente ligada ao movimento estudantil. E o Tarifa Zero passa a ser o entendimento de que a cidade, por concentrar as grandes conquistas tecnológicas, científicas, culturais da humanidade, precisa ser então democratizada. E a democratização ao acesso à cidade passa necessariamente pela garantia do acesso e da chegada aos equipamentos públicos e privados que na cidade estão espalhados. Então nesse período nós ampliamos a concepção. Foi ali que tive a oportunidade de conhecer o Lúcio Gregori, que foi secretário de transportes da gestão da Erundina em São Paulo, e ele nos ajuda muito."

    Fonte: Brasil de Fato.