Por Miguel do Rosário, no Tijolaço
A Comissão da Verdade está em crise. Dos sete integrantes nomeados
por Dilma, dois já desistiram, e a comissão tem se notabilizado por um
burocratismo excessivo, falta de transparência e, sobretudo, ausência de
uma estratégia de comunicação, fundamental para que se transforme em
algo realmente instrutivo e producente.
Entretanto, talvez o principal entrave a bloquear os trabalhos da
Comissão seja a sua falta de vontade de investigar o papel da mídia na
ditadura. Morando no Rio, perto do centro, eu tive o privilégio de
frequentar a Biblioteca Nacional e ler as edições dos principais jornais
brasileiros nas semanas que antecederam o golpe militar. Houve uma
construção deliberada, de jornais como O Globo, a Folha e o Estadão,
para criar uma atmosfera de golpe. Há inúmeros estudos que revelam a
articulação, muitas vezes patrocinada por agências norte-americanas,
para orientar a mídia brasileira numa direção antitrabalhista,
antinacional e antigoverno.
Nacionalismo e trabalhismo, no Brasil, sempre estiveram associados à
esquerda, visto que nossa direita é, historicamente, vendida ao
imperialismo americano.
A Comissão não pode ser usada apenas para culpar velhinhos de noventa
anos que torturaram subversivos quarenta anos atrás. Estes deveriam sim
ser condenados, como fizeram nossos vizinhos. Mas os tubarões, aqueles
que efetivamente contribuíram para o golpe, foram grandes empresas, com
ênfase nas empresas de mídia. O Brasil precisa conhecer a maneira pela
qual essas empresas se consolidaram e assumiram uma posição hegemômica
no setor de comunicação social. A concentração da mídia e do mercado de publicidade é um fenômeno
mundial, que aconteceria com ou sem ditadura. Mas com a ditadura, ele se
deu de maneira muito mais brutal, com artificialismo e enorme
interferência estrangeira.
A Comissão investigará, por exemplo, o apoio dos Estados Unidos às Organizações Globo, antes e depois da ditadura? Se quiser se conhecer a si mesmo, o Brasil precisa enfrentar essas
questões. Não por revanchismo, mas por razões acadêmicas, históricas e
políticas. O Brasil merece a verdade. O Brasil merece saber, em
detalhes, de que lado a Globo ficou quando a democracia brasileira foi
brutalizada, e de que lado permaneceu enquanto ela foi torturada.
Seguramente há muitas histórias de corrupção por trás da consolidação
do império global durante o regime, que nossos jovens precisam
conhecer. Até para que as novas gerações não cometam os mesmos erros das
antigas, de se deixarem levar por campanhas midiáticas agressivas,
moralizantes, de cunho antidemocrático.
A Comissão da Verdade, se não quiser ser conhecida como Comissão da Covardia, precisa responder às ruas, que estão gritando:
A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!
Tags: comissão da verdade, ditadura militar,
Globo, Miguel do Rosário, Tijolaço
Fonte: Revista Fórum.
terça-feira, 23 de julho de 2013
Ateus e agnósticos protestam contra gastos públicos na recepção ao papa
Com um secador de cabelos, membros da Associação Brasileira
de Ateus e Agnósticos (Atea) promoveram um “desbatismo” em frente à
Catedral da Sé, centro da capital paulista.
Por Daniel Mello, da Agência Brasil
Tags: Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea),
Daniel Sottomaior, Estado laico, feriados no Rio de Janeiro,
Jornada Mundial da Juventude (JMJ), laicidade, Papa Francisco,
protesto contra gastos públicos na recepção do Papa,
religião, visita do Papa
Fonte: Revista Fórum.
Por Daniel Mello, da Agência Brasil
Tags: Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea),
Daniel Sottomaior, Estado laico, feriados no Rio de Janeiro,
Jornada Mundial da Juventude (JMJ), laicidade, Papa Francisco,
protesto contra gastos públicos na recepção do Papa,
religião, visita do Papa
Fonte: Revista Fórum.
O COMPORTAMENTO DE MUITOS COORDENADORES DE ESCOLA.
O Rato Que Tem Medo
domingo, 28 de abril de 2013
Quando de meus bons tempos de escola - e
digo como aluno, obviamente -, não havia a esdrúxula e inútil figura do
coordenador pedagógico.
As escolas eram regidas, e muito bem
regidas, pelos diretores - bons diretores -, pelos inspetores - bons
inspetores - e pelos professores - bons professores em sua maioria,
outros nem tanto, mas todos muito bem pagos, o que logo de cara já lhes
conferia o respeito da população, que, inculta, só respeita quem ganha
bem.
Saí da escola em 1984, por conta da
conclusão de meu Segundo Grau, sem conhecer a figura do coordenador
pedagógico. Só comecei a ter o desprazer de conhecê-la - e jamais pude,
na época, imaginar o grau de desprazer a que isso chegaria - exatos dez
anos depois, quando, sabe-se lá por quais manobras do Destino, esse
velho safado, peguei-me novamente em sala de aula, como professor,
então.
A pessoa se apresentou a mim como tal,
toda educada, cortês, boazinha e afável - todo canalha é educado,
cortês, bonzinho e afável -, disse-me de suas funções de coordenadora
para comigo e me deu até um papelzinho com suas atribuições por escrito
: I - acompanhar e avaliar o
ensino e o processo de aprendizagem,
bem como os resultados do desempenho dos alunos;II - atuar no sentido de tornar as ações de coordenação
pedagógica espaço coletivo de construção permanente da prática
docente;
III - assumir o trabalho de formação continuada, a partir do diagnóstico dos saberes dos professores para garantir situações de estudo e de reflexão sobre a prática pedagógica, estimulando os professores a investirem em seu desenvolvimento profissional; IV - assegurar a participação ativa de todos os professores do segmento/nível objeto da coordenação, garantindo a realização de um trabalho produtivo e integrador;
V - organizar e selecionar materiais adequados às diferentes situações de ensino e de aprendizagem;
VI - conhecer os recentes referenciais teóricos relativos aos processos de ensino e aprendizagem, para orientar os professores; VII - divulgar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis.
III - assumir o trabalho de formação continuada, a partir do diagnóstico dos saberes dos professores para garantir situações de estudo e de reflexão sobre a prática pedagógica, estimulando os professores a investirem em seu desenvolvimento profissional; IV - assegurar a participação ativa de todos os professores do segmento/nível objeto da coordenação, garantindo a realização de um trabalho produtivo e integrador;
V - organizar e selecionar materiais adequados às diferentes situações de ensino e de aprendizagem;
VI - conhecer os recentes referenciais teóricos relativos aos processos de ensino e aprendizagem, para orientar os professores; VII - divulgar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis.
Nunca
entendi patavina do idioma pedagogês, e nunca fiz questão de, e nunca
farei. Mas me pareceu que o tal professor coordenador fosse um aliado
do docente, um amigo a ocupar um escalão mais alto dentro do território
cada vez mais hostil em que se transformava a escola pública pós-ECA e
pós-Progressão Continuada.
Mera
ilusão de minha parte. Ingenuidade da mais vergonhosa, devo admitir.
Nunca, nunca tive nenhum coordenador que desempenhasse minimamente o
papel de aliado do docente. Todos, sem única exceção, ou por comodismo,
ou por conveniência, ou por incompetência, ou pelos três motivos, uma
vez que todo incompetente é conveniente acomodado, resumiram suas
funções a uma única : vigiar o professor, e humilhá-lo sempre que
possível.
O
professor coordenador nada faz de pedagógico, ele é uma espécie de
capitão do mato dos antigos senhores de escravos, e os escravos,
desnecessário dizer, são os professores. Pior : o professor coordenador é
aquele escravo que foi levado para mais perto de seu amo e senhor, é o
escravo que foi levado a trabalhar dentro da Casa Grande, continua o
mesmo bosta de escravo, mas a proximidade com quem detém o poder, com a
mão que empunha o chicote, o faz se pensar também depositário desse
poder.
O
dono do chicote, vez ou outra, empresta o açoite ao coordenador, e ele
se regozija, usa-o com enorme destreza contra quem era seu igual até
ontem, chicoteia o escravo com mais prazer ainda que o próprio dono,
como se chicoteasse sua própria condição anterior de escravo das
senzalas, para afugentar de vez essa situação, para impedir a todo custo
seu retorno a ela. O professor coordenador se esforça em mostrar que
gosta menos dos escravos que o próprio senhor de escravos, para que o
amo nunca o mande de volta à senzala, para que o mantenha sempre a
lamber suas botas e seu saco.
Isso
acontece porque os professores coordenadores foram um dia professores
dos mais incapazes, professores totalmente incompetentes no domínio de
uma sala de aula, seja por falta de conteúdo, seja por falta de pulso
firme, de postura, ou o que seja. Os professores coordenadores são
professores frustrados. Feito um crítico musical que desanca um bom
disco, sem nunca, ele próprio, ter conseguido compor única melodia, por
pura inveja; ou um crítico de cinema a dar uma só estrela a um filme,
sem nunca ter conseguido escrever único roteiro, ou rodar única
película.
O
professor coordenador vê um bom professor e se irrita, morre de inveja
da capacidade desse, capacidade que ele, um dia, quis ou julgou ter, mas
descobriu-se um sem talento. Então, geralmente amigo de algum diretor
ou de outro coordenador, ajeita uma mamata e se autopromove a
coordenador. Daí para frente, lenha em quem tem o talento que ele não
tem. Não à toa os professores coordenadores vivem a dizer que os
professores não sabem avaliar, não sabem preparar aulas, não sabem isso,
não sabem aquilo. Estão dizendo de si próprios, os canalhas, os
traidores.
E
uma ou duas vezes por semana, os coordenadores põem no tronco e
chicoteiam seus professores, a sessão chibata ocorre nos tais HTPCs,
reuniões de cunho falsamente pedagógico. Os HTPCs são os momentos em que
o professor fica sabendo que todos os males da escola, quiçá do mundo,
são de sua culpa e responsabilidade, são os momentos em que o professor é
reduzido a menos que a merda do cavalo do bandido de filmes de
faroeste.
Nos
HTPCs, os coordenadores despejam todas as suas frustrações sobre o
professor, despejam, como bem diria Lobão, a sua ira da frustração de
não ter o próprio pau ereto. Grande Lobão.
E
por que o governo coloca esse tipo de gente a liderar os professores? Um
frustrado e incapaz não seria a pior espécie de lider possível? Claro
que sim. Mas quem disse que o governo quer líderes para seus
professores? Ele quer é vigias, punidores. E aí, o frustrado é a escolha
perfeita.
O
frustrado, imbuído de um pequeno poder, não lidera, apenas manda. Ele
tem um poder circunstancial, o chicote emprestado, como bem diz o texto
que logo reproduzirei.
Hoje,
porém, vivemos tempos de politicamente correto, e a humilhação pública
do professor não pode ser muito direta, muito contundente, ela tem que
ser mais polida, mais subjetiva, mais canalha ainda. E para isso, para
humilhar polidamente o professor, os coordenadores adoram se utilizar de
pequenos textos, de pequenas fábulas com moral da história, usam-nas o
tempo todo para mandar suas indiretas ao professor, suas farpas. Rubem
Alves, Paulo Coelho, Gabriel Chalita, Paulo Freire etc são os autores
que mais auxiliam o coordenador em seu açoitamento pedagógico.
Usando
as mesmas armas que eles, reproduzirei - finalmente - um texto que
trata muito bem dessa questão do chefe incapaz, que manda sem liderar;
ao fim do texto, fechando-o com chave de ouro, escrita pelo genial e imortal
Millôr Fernandes, uma fábula moderna, O Rato Que Tem Medo.
A fábula se encaixa perfeitamente aos professores coordenadores de todo esse nosso Brasil, que já foi mais varonil.
"Um dos fundadores da sociologia, o economista alemão Max Weber,
conceitua o poder como sendo toda a probabilidade de impor a própria
vontade numa relação social, obstante qualquer resistência e
independentemente do fundamento dessa probabilidade.
Um dos exemplos mais simplórios e também um dos mais anacrônicos do
exercício do poder está manifestado no membro administrativo de algumas
corporações, com grau hierárquico executivo identificado simplesmente
como “o chefe”.
“O chefe” é o personagem muitas vezes caricato que, encarnando o
detentor de alguma forma de poder, tem muitas vezes seu grau de
hierarquia oficializado por títulos sugestivos, tais como coordenador,
gerente, diretor, supervisor, etc.
Independentemente do título, ser chefe é ter acesso privilegiado às
informações e às decisões, e também a outros instrumentos
administrativos que viabilizam o exercício desse poder, tais como a
promoção e a demissão de seus subordinados, por exemplo.
No Brasil das corporações anacrônicas é comum se ouvir nos bastidores:
- O chefe tem sempre razão!
- Manda quem pode – e obedece quem tem juízo!
E por aí vai.
A infelicidade de tal prática, onde chefe é chefe e subordinado é
subordinado (sendo a diferença muito nítida também no montante dos
salários) geralmente está acompanhada pelo autoritarismo de uma parte e a
subserviência da outra.
Talvez uma herança atávica do feudalismo, o exercício do micro poder
diário das chefias nos convida a um questionamento filosófico também
sobre o exercício diário da ética, que se traduz, na interpretação de
muitos filósofos modernos, como sendo simplesmente o exercício da moral.
Muitos chefes possuem um poder circunstancial. Mandam mas não
lideram.
E talvez por falta dessa mesma liderança ameacem, intimidem e se
transmigrem amiúde na versão tragicômica de pequenos tiranos.
Em síntese: um rato que ruge.
E o que é pior, é que muitos desses chefes tiranos brotaram do plano
comum de seus subordinados.
Quando então promovidos simplesmente “mudam de lado”.
Talvez porque na maioria das corporações onde exista um chefe tirano,
também existam subordinados que trabalhem direito apenas quando contam
com uma “severa” supervisão.
Flagra-se, portanto, a carência de moral, tanto de uma parte como de
outra.
Qual é a solução?
Melhorando-se o subordinado, transformando-o em colaborador se
melhoraria também a chefia?
Ou trocando-se um chefe por um verdadeiro líder, a coisa toda mudaria
de figura?
Será?
Ou é do indivíduo que temos de falar – antes de mais nada?
Para concluir este artigo e suscitar essa fabulosa reflexão – quero
apresentar aqui minha releitura recorrente de uma das “Fábulas
Fabulosas” de Millôr Fernandes:
“O rato que tem medo”
A história é bem simples. Um rato que depois de muito sofrer pede
para um grande mágico transformá-lo em um gato. Não suportava mais ser
perseguido e intimidado.
Nem bem foi transformado, ironicamente, passou a perseguir todos os
ratos que encontrou. Porém, com inédita crueldade e efetiva precisão.
Afinal conhecia com propriedade o modus operandi destrutivo dos
ratos.
Viveu satisfeito até encontrar um cão – que então o persegue.
Implora mais uma vez para que mágico o transforme, dessa vez em um
cão, e assim, por efeito da magia vai subindo sucessivamente a escala
zoológica até chegar na iminência de ser transformado em ser humano.
Nessa passagem, o mágico, numa peripécia o transforma novamente num
rato.
- Mas por que voltei a ser rato? – pergunta o animal, transbordando
frustração.
É com a sabedoria típica das fábulas que o Grande Mágico responde:
- De que adiantaria para o mundo mais um Homem com “coração de rato”!
Retirei o texto do excelente blog Hypescience. Desafio qualquer professor coordenador a se utilizar dessa fábula de Millôr em seus HTPCs.
POR UM PAÍS SOCIALISTA.
O protesto do dia 17/06/2013 foi um grande marco na
história do Brasil. Eu estive lá e posso afirmar que tinha mais gente do que a
mídia divulgou. Inicialmente a concentração se deu no Largo da Batata e depois percorremos outras ruas incluindo faria lima e a Brigadeiro... No fim a Paulista. Muito mais de 100 mil pessoas estavam naquele protesto
revoltados com o aumento da passagem e com a mídia golpista, principalmente a
REDE GLOBO, onde o grito de guerra contra esta emissora reacionária era #O POVO NÃO É BOBO ABAIXO A REDE GLOBO. Gritávamos também o #GIGANTE ACORDOU, mas passado mais de um mês parece que o Gigante realmente dormiu. Assim me refiro porque agora seria hora de
irmos para as ruas e lutarmos juntos pelo os 5 pactos que a nossa presidenta
divulgou para nos ajudar nessa batalha. Conquista nossa. Só para lembrar a presidenta Dilma Rousseff foi a única estadista no mundo que ouviu as vozes vindas das ruas. Por exemplo, o plebiscito que ela propôs
para a reforma política está parado no senado, o senado também até agora não
votou, considerando crime hediondo, as corrupções causadas por políticos/parlamentares, diante de outras emendas que estão na geladeira e o nosso congresso insiste em fazer vista grossa. E nós?
Onde esta o GIGANTE QUE ACORDOU? Precisamos focar nossos protestos contra
aqueles que realmente estão paralisando esse país, visando apenas o poder do
neoliberalismo sobre nossos direitos. E é visível que no parlamento do nosso
Brasil vivem muitos parasitas interesseiros de olho apenas naquilo que possa
satisfazer seus anseios particulares. Mais parecem urubus em cima da carniça.
Entretanto nós devemos continuar porque a força do povo já mostrou que as coisas
funcionam. Por outro lado a consciência política do nosso povo não está totalmente
educada e por isso existem muitos oportunistas no meio dos protestos
descaracterizando o movimento, as lutas. É preciso que fiquemos de olho aberto focando naquilo que é essencial. Apesar de saber que a luta de classes está inserida
nesses protestos existem sim muitos interesses que podemos compartilhar juntos, portanto a classe trabalhadora com mais consciência política deve caminhar para ser majoritária nessa batalha. Como
diria nosso mestre: TRABALHADORES DE TODO MUNDO UNI-VOS! Karl Marx.
Governador de São Paulo Geraldo Alckmim deve mostrar a conta.
Publicado em 27/10/2010
Fraude no Metrô: PT quer suspender licitação e afastar responsáveis
Fraude no Metrô: PT pede na Justiça suspensão de licitação e afastamento dos responsáveis.
O Conversa Afiada reproduz comunicado do PT sobre a polêmica licitação do metrô de SP:
Fraude no Metrô: PT pede na Justiça suspensão de licitação e afastamento dos responsáveis
A Bancada do PT na Assembleia
Legislativa de São Paulo está requerendo dos Ministérios Públicos
Federais e Estadual a suspensão da licitação de concorrência dos lotes
de 3 a 8 da Linha 5 (Lilás) do Metrô, cuja fraude foi denunciada nesta
terça-feira (26/10), pelo jornal Folha de S. Paulo. (leia a notícia: http://www.ptalesp.org.br/bancada_ver.php?idBancada=2748).
Os deputados do PT requerem que
sejam expedidas liminares para a suspensão da referida concorrência (nº
41428212), determinar a preservação de todas as propostas comerciais
apresentadas e que se determine o afastamento dos responsáveis até
conclusão das investigações.
A representação solicitada que
seja aberto inquérito para apurar a ilegalidade, inconstitucionalidade e
improbidade na conduta do ex e do atual governadores, José Serra e
Alberto Goldman, respectivamente, do presidente do Metrô, José Jorge
Fagali e do secretário estadual de Transportes Metropolitanos, José Luiz
Portella.
Caso Alstom e contrato da Linha 4
As irregularidades existentes
nas contratações do Metrô são conhecidas há tempos. Em 6/5/2008, o
jornal Valor Econômico, reproduzindo o The Wall Street Journal,
denunciou supostos pagamentos de propinas pela empresa francesa Alstom,
no valor aproximado de US$ 200 milhões, a autoridades de vários países
da Ásia e da América Latina, entre as quais o Brasil.
No Brasil, parcela das autoridades envolvidas nos indícios de recebimentos de propinas ocuparia cargos no Metrô.
Outro problema de grande
dimensão ocorrido no Metrô foi em relação ao contrato da Linha
4-Amarela, no qual o Metrô havia feito a exigência de utilização do
equipamento conhecido como “tatuzão” – shield – eliminando do certame
licitatório diversas empresas que estariam habilitadas para fazer as
obras por outro método construtivo. Posteriormente, já assinado o
contrato, a companhia alterou o método construtivo, deixando de exigir a
utilização do equipamento.
Se não bastasse, existem
diversas suspeitas de irregularidades nos termos de aditamento
contratual que alteraram os valores iniciais dos contratos. (veja a
representação em: http://www.ptalesp.org.br/bancada_ver.php?idBancada=2752).
Fonte: Conversa Afiada/Paulo Henrique Amorim.
Em protesto, ex-moradores do Pinheirinho fazem ocupação-relâmpago por 2 horas
Em protesto, ex-moradores do Pinheirinho fazem ocupação-relâmpago por 2 horas
- Estados do Brasil:
Famílias denunciam abandono de terreno e exigem a construção de casas prometidas
22/07/2013
do Sindimetal/SJC
Cerca
de 400 pessoas voltaram a ocupar por duas horas o terreno do
Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos, na sexta-feira (19). Os
manifestantes realizaram um protesto contra a demora na construção de
moradias para as famílias despejadas há um ano e meio.
Os
ex-moradores começaram a se concentrar às 8h em frente ao terreno da
antiga ocupação e por volta das 9h entraram no local, ficando até as
11h. Lideranças da Associação Democrática por Moradia e Direitos Sociais
(ADMDS) e centenas de famílias percorreram o antigo acampamento.
Ao
longo do trajeto, emoção e indignação dos ex-moradores. Onde antes
havia centenas de casas, pequenos comércios, praças e igrejas, hoje
existe um grande terreno baldio, tomado pelo mato.
Mas
o que gerou revolta foi encontrar um barracão com diversos móveis e
utensílios domésticos dos ex-moradores. Na violenta desocupação, no dia
22 de janeiro de 2012, as famílias foram expulsas de suas casas e não
puderam levar nada. Mas até hoje não tiveram de volta seus pertences.
Depois
dos moradores terem deixado a área na sexta-feira, um grupo não
identificado colocou fogo no galpão, queimando os móveis que ainda
restavam. Cerca de 100 carros, também deixados para trás no dia do
despejo, estavam amontoados no meio do mato, porém, totalmente
“depenados”, sem motor, bancos, peças etc.
Chega de enrolação
O
protesto da sexta-feira teve por objetivo cobrar dos governos federal,
estadual e municipal a construção das casas. Prefeitura e Governo do
Estado anunciaram, após a desocupação, a construção de moradias às
famílias do Pinheirinho. Também aconteceram negociações com a ADMDS para
construção de casas. Porém, após um ano e meio, os ex-moradores seguem
sem um teto, morando em condições precárias. O aluguel social de R$ 500
não é suficiente para pagar uma moradia em São José dos Campos.
“É
um absurdo que tenham jogado milhares de famílias na rua para, um ano e
meio depois, o Pinheirinho voltar a ser um terreno baldio, sem função
social. Pra que tanta violência e pressa para desocupar?”, disse o
advogado das famílias, Toninho Ferreira.
“Há um
ano e meio estamos em negociações para garantir casas às famílias do
Pinheirinho, mas até agora nenhum tijolo foi assentado, nem o terreno
existe. Os governos estão enrolando e tratando com descaso um problema
grave que eles mesmos criaram ao fazer uma desocupação violenta e
ilegal. As famílias querem o que foi prometido: a construção de casas. A
luta não vai parar”, afirmou o advogado das famílias.
Fotos: Tanda Melo/Sindimetal/SJC
Fonte: Brasil de Fato.
Empresa ligada à Rede Globo está com os bens bloqueados
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Empresa ligada à Rede Globo está com os bens bloqueados
Amaury Ribeiro Jr. e Rodrigo Lopes: Globo tem bens bloqueados
do Viomundo
O Viomundo antecipa, com exclusividade, coluna que será publicada nas próximas horas pelo jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte:
por Amaury Ribeiro JR e Rodrigo Lopes
A Globopar, empresa ligada à TV Globo, está com parte de suas contas
bancárias e bens bloqueados, devido a um dívida ativa de R$ 178 milhões
com o Tesouro Nacional. De acordo com documentos conseguidos pelo Hoje
em Dia na Justiça Federal do Rio de Janeiro, a dívida inscrita no
cadastro de inadimplentes federais foi originada por várias sonegações
de impostos federais.
Por solicitação da Procuradoria da Fazenda Nacional do Rio de Janeiro,
as contas bancárias da Infoglobo e a da empresa Globo LTDA também
chegaram a ser bloqueadas. Mas os irmãos Marinho – Roberto Irineu, José
Roberto e João Roberto – conseguiram autorização da Justiça para liberar
o bens dessas duas últimas empresas no mês passado, na 26ª Vara da
Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Inadimplente
A dívida da Globopar, no entanto, já está inscrita no cadastro de
inadimplentes do Tesouro Nacional, em fase de execução. Na semana
passada, a Globo conseguiu adiar a entrega de seu patrimônio ao tesouro
até que o processo transite em julgado.
O Hoje em Dia também teve acesso ao processo que apurou o sumiço do
inquérito de sonegação da Organizações Globo na compra dos direitos da
transmissão da Copa de 2002.
Receita Federal
Um documento enviado pela Receita à Justiça em 2010 comprova, ao
contrário do que a emissora divulgou, que a dívida de R$ 600 milhões
nunca foi paga. A papelada comprova ainda que o Ministério Público
Federal ao ser avisado sobre operações de lavagem de dinheiro entre a
Globo e a Fifa nas Ilhas Virgens Britânicas prevaricou muito.
Omissão
Ao invés de solicitar investigação à Polícia Federal, preferiu emitir um
parecer que atesta não ter ocorrido nenhum ato ilícito nas transações
nas Ilhas Virgens. Um inquérito criminal contra os irmãos Marinho chegou
a ser instaurado, mas também sumiu das dependências da Receita Federal.
Não bastasse toda essa confusão, a Globopar continua sonegando. E como
nunca. Nos últimos dois anos, a empresa foi notificada 776 vezes pela
Receita Federal por sonegação fiscal.
Equipamentos
A maior parte dessas autuações envolve a apreensão de equipamentos, sem o
recolhimento de impostos, no aeroporto do Galeão, no Rio De Janeiro.
Para um bom entendedor a Globopar é uma empresa contumaz na prática do
descaminho.
Verba publicitária
O ministério da Comunicação do governo Dilma Rousseff e os demais
governantes desatentos liberaram verba para empresa inadimplente com a
União, o que constitui-se ato de improbidade administrativa. A liberação
pode ser comprovada no site do Ministério da Fazenda.
Sobre Amado Batista e a ‘merecida tortura’
Postado em: 31 mai 2013 às 17:26
Amado Batista e a tortura. Merecem reflexões as declarações do cantor que diz ter merecido a tortura por ter feito coisas erradas e os torturadores o corrigiram como uma mãe corrige um filho
Urariano Mota, Direto da RedaçãoAs declarações do cantor Amado Batista no programa “De frente com Gabi”, do SBT, merecem um pouco mais de reflexão. As notícias registram que assim falou o astro da canção brega:
“Eu acho que mereci a tortura. Fiz coisas erradas, os torturadores me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho. Acho que eu estava errado por estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força. Fui torturado, mas mereci”.
A reflexão sobre uma frase assim não deve ir pelo caminho do deboche, no gênero da última comédia stand-up, que tudo avacalha como se a vida fosse uma só avacalhação. Portanto, não diremos que há pessoas que gostam de espancar, e outras que adoram ser espancadas. Nem tampouco diremos que no cantor de triste nome Amado sobrevive a síndrome de Estocolmo, aquela em que a vítima passa a se identificar emocionalmente com a tortura que sofreu do criminoso, pois tem medo de maior violência. Esse mal cairia melhor em Geraldo Vandré. Não, o caso Amado Batista é outro. Tentarei refletir por um segundo caminho, em duas ou três coisas.
A primeira coisa que destaco na frase do cantor Amado é a mentira, sob duas faces. Na que mais aparece, a mentira objetiva, da realidade a que se refere, pois a ninguém deve ser dada a punição da tortura, e no caso de Amado com o agravo do adjetivo “merecida”. Na outra face, mentira subjetiva mesmo, porque o não muito Amado desloca a dor sofrida para a felicidade da ética, aquela em que fazemos o justo, ainda que seja desconfortável. Por que esse deslocamento? A sua queda na consciência amoral deve ter ocorrido por motivos que ele não declara. Que bom acordo seguiu Amado Batista ao sair da tortura para o sucesso? É claro, todo conformista fala que as pessoas têm que sobreviver. Mas seria reveladora a apresentação da amada conta. Qual foi o seu valor?
A terceira e última coisa a destacar no escárnio stand-up, do saudoso da humilhação Amado Batista, é a ignorância, o nível de apreensão da vida, da sociedade, que não se confunde com a ignorância de muitos homens e artistas iletrados. João do Vale, ou Vitalino dos bonecos de barro, marginalizados que foram do ensino nas escolas formais, jamais sorririam assim dos choques sofridos no pau de arara. Esse nível do cantor de injusta alcunha Amado se reflete melhor, creio, nas letras que a sua arte comete. Não precisam escutar, leiam um dos seus poemas cantados:
“Princesa, a deusa da minha poesia, ternura da minha alegria, nos meu sonhos quero te ver. Princesa, a musa dos meus pensamentos, enfrento a chuva e o mau tempo pra poder um pouco te ver”.
E agora comparem, enfim, a justeza e boa ética da tortura, que pune os criminosos na frase de Amado Batista, com as palavras de Dulce Pandolfi: “Dois meses depois da minha prisão e já dividindo a cela com outras presas, servi de cobaia para uma aula de tortura. O professor, diante de seus alunos, fazia demonstrações com o meu corpo. Era uma espécie de aula prática com algumas dicas teóricas“. E nas de Lúcia Murat: “A tortura era prática da ditadura, e nós sabíamos disso pelo relato dos companheiros que tinham sido presos antes. Mas nenhuma descrição seria comparável ao que eu vim a enfrentar. Não porque tenha sido mais torturada do que os outros, mas porque o horror é indescritível“. Tamanha era a dor e destruição que Lúcia tentou se matar duas vezes.
Tortura, a deusa da sua poesia, Amado Batista enfrentou a chuva e o mau tempo pra poder um pouco te ver.
25 verdades sobre o episódio Morales/Snowden
Postado em: 4 jul 2013 às 10:26
Caso Evo Morales/Edward Snowden mostra que União Europeia é um engodo político e diplomático, sempre subserviente às exigências de Washington
Por Salim LamraniO caso Edward Snowden está na raiz de um grave incidente diplomático entre a Bolívia e vários países europeus. Por ordem de Washington, França, Itália, Espanha e Portugal proibiram o avião presidencial de Evo Morales de sobrevoar seus territórios.
1 – Depois de uma viagem oficial à Rússia para assistir a uma cúpula de países produtores de gás, o presidente Evo Morales pegou seu avião para voltar à Bolívia.
2 – Os Estados Unidos, pensando que Edward Snowden, ex-agente da CIAe da NSA, autor das revelações sobre as operações de espionagem de seu país, estava no avião presidencial, ordenou que quatro países europeus – França, Itália, Espanha e Portugal – proibissem que Evo Morales sobrevoasse seus respectivos espaços aéreos.
3 – Paris cumpriu imediatamente a ordem procedente de Washington e cancelou a autorização de sobrevoo de seu território, que havia outorgado à Bolívia em 27 de julho de 2013, enquanto o avião presidencial estava a apenas alguns quilômetros das fronteiras francesas.
4 – Assim, Paris colocou em perigo a vida do presidente boliviano que, por falta de combustível, precisou fazer uma aterrissagem de emergência na Áustria.
5 – Desde 1945, nenhuma nação do mundo impediu um avião presidencial de sobrevoar seu território.
6 – Paris, além de desatar uma crise de extrema gravidade, violou o direito internacional e a imunidade diplomática absoluta da qual todo chefe de Estado goza.
7 – O governo socialista de François Hollande atentou gravemente ao prestígio da nação. A França aparece diante dos olhos do mundo como um país servil e dócil que não vacila um instante sequer para obedecer as ordens de Washington, contra seus próprios interesses.
8 – Ao tomar tal decisão, Hollande desprestigiou a voz da França no cenário internacional.
9 – Paris também se tornou alvo de piada no mundo inteiro. As revelações feitas por Edward Snowden permitiram descobrir que os Estados Unidos espiavam vários países da União Europeia, entre os quais a França. Diante dessas revelações, François Hollande pediu pública e firmemente a Washington que parasse com esses atos hostis. Ainda assim, por debaixo dos panos, o Palácio do Eliseu seguiu fielmente as ordens da Casa Branca.
10 – Depois de descobrir que se tratava de uma informação falsa e que Snowden não estava no avião, Paris decidiu anular a proibição.
11 – Itália, Espanha e Portugal também seguiram as ordens de Washington e proibiram Evo Morales de sobrevoar seu território, antes de mudar de opinião, quando souberam que a informação não era verídica, e permitir que o presidente boliviano seguisse sua rota.
13 – A Bolívia denunciou um atentado contra sua soberania e contra a imunidade de seu presidente. “Trata-se de uma instrução do governo dos Estados Unidos”, segundo La Paz.
14 – América Latina condenou unanimemente a atitude da França, Espanha, Itália e Portugal.
15 – A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) convocou em caráter de urgência uma reunião extraordinária após esse escândalo internacional e expressou sua “indignação” por meio de seu Secretário-Geral, Ali Rodríguez.
16 – A Venezuela e o Equador condenaram “a ofensa” e “o atentado” contra o presidente Evo Morales.
17 – O presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, condenou “uma agressão grosseira, inadequada e não civilizada”.
18 – O presidente equatoriano, Rafael Correa, expressou sua indignação: “Nossa América não pode tolerar tanto abuso!”.
19 – A Nicarágua denunciou “uma ação criminosa e bárbara”.
20 – Havana fustigou o “ato inadmissível, infundado, arbitrário que ofende toda a América Latina e o Caribe”.
21 – A presidente argentina, Cristina Kirchner, expressou sua consternação: “Definitivamente, estão todos loucos. O chefe de Estado e seu avião têm imunidade total. Não pode haver esse grau de impunidade”.
22 – Por meio de seu Secretário-Geral José Miguel Insulza, a OEA (Organização dos Estados Americanos) condenou a decisão dos países europeus: “Não existe justificativa alguma para cometer tais ações em detrimento do presidente da Bolívia. Os países envolvidos devem dar uma explicação das razões pelas quais tomaram essa decisão, particularmente porque isso colocou em risco a vida do primeiro mandatário de um país-membro da OEA”.
23 – A Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) denunciou “uma flagrante discriminação e ameaça à imunidade diplomática de um Chefe de Estado”.
24 – Em vez de outorgar o asilo político à pessoa que lhe permitiu descobrir que era vítima de espionagem hostil, a Europa, particularmente a França, não vacila em criar uma grave crise diplomática com o objetivo de entregar Edward Snowden aos Estados Unidos.
25 – Esse caso ilustra que, se a União Europeia é uma potência econômica, é também um engodo político e diplomático incapaz de adotar uma postura independente em relação aos Estados Unidos.
* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista (Opera Mundi)
Fonte: P Pragmatismo Político
O significado e as perspectivas das mobilizações de rua
25/06/2013
Nilton Viana
da Redação
É
hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro. Essa é
uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre as recentes
mobilizações em todo o país. Segundo ele, há uma crise urbana instalada
nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo
financeiro. “As pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades,
perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar
com a família, estudando ou tendo atividades culturais”, afirma. Para o
dirigente do MST, a redução da tarifa interessava muito a todo o povo e
esse foi o acerto do Movimento Passe livre, que soube convocar
mobilizações em nome dos interesses do povo.
Nesta
entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Stedile fala sobre o caráter
dessas mobilizações, e faz um chamamento: devemos ter consciência da
natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações
e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta
de classes. “A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer
política burguesa, mercantil”, constata. E faz uma alerta: o mais grave
foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a
esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. As forças populares e
os partidos de esquerda precisam colocar todas as suas energias para ir
para a rua, pois está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação,
uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes.
“Precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do
povo”.
Brasil de
Fato – Como você analisa as recentes manifestações que vêm sacudindo o
Brasil nas últimas semanas? Qual é a base econômica para elas terem
acontecido?
João Pedro Stedile, da coordenação do MST - Foto: José Cruz/ABr |
João Pedro Stedile –
Há muitas avaliações sobre por que estão ocorrendo estas manifestações.
Me somo à análise da professora Ermínia Maricato, que é nossa maior
especialista em temas urbanos e já atuou no Ministério das Cidades na
gestão Olívio Dutra. Ela defende a tese de que há uma crise urbana
instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do
capitalismo financeiro. Houve uma enorme especulação imobiliária que
elevou os preços dos aluguéis e dos terrenos em 150% nos últimos três
anos. O capital financiou – sem nenhum controle governamental – a venda
de automóveis para enviar dinheiro para o exterior e transformou nosso
trânsito um caos. E, nos últimos dez anos, não houve investimento em
transporte público. O programa habitacional Minha casa, minha vida
empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infraestrutura.
Tudo isso gerou uma crise estrutural, em que as pessoas estão vivendo um
inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no
trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo
atividades culturais. Somado a isso, a péssima qualidade dos serviços
públicos, em especial na saúde e mesmo na educação, desde a escola
fundamental, ensino médio, em que os estudantes saem sem saber fazer uma
redação. E o ensino superior virou loja de vendas de diplomas a
prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.
Do ponto de vista político, por que isso aconteceu?
Os
15 anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de
composição de classes transformou a forma de fazer política em refém
apenas dos interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas
práticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua
maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar
recursos públicos para seus interesses. Toda a juventude nascida depois
das Diretas Já não teve oportunidade de participar da política. Hoje,
para disputar qualquer cargo, por exemplo, o de vereador, o sujeito
precisa ter mais de um milhão de reais. O de deputado custa ao redor de
dez milhões de reais. Os capitalistas pagam e depois os políticos os
obedecem. A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política
burguesa, mercantil. Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda
institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e
se burocratizaram. E, portanto, gerou na juventude uma ojeriza à forma
dos partidos atuarem. E eles têm razão. A juventude não é apolítica, ao
contrário, tanto é que levou a política para as ruas, mesmo sem ter
consciência do seu significado. Mas está dizendo que não aguenta mais
assistir na televisão essas práticas políticas que sequestraram o voto
das pessoas, baseadas na mentira e na manipulação. E os partidos de
esquerda precisam reapreender que seu papel é organizar a luta social e
politizar a classe trabalhadora. Senão cairão na vala comum da história.
E por que as manifestações eclodiram somente agora?
Provavelmente
tenha sido mais pela soma de diversos fatores de caráter da psicologia
de massas, do que por alguma decisão política planejada. Somou-se todo o
clima que comentei, mais as denúncias de superfaturamento das obras dos
estádios, que é são um acinte ao povo. Vejam alguns episódios. A Rede
Globo recebeu do governo do estado do Rio de Janeiro e da prefeitura R$
20 milhões do dinheiro público para organizar o showzinho de apenas duas
horas do sorteio dos jogos da Copa das Confederações. O estádio de
Brasília custou R$ 1,4 bilhão e não tem ônibus na cidade! A ditadura
explícita e as maracutaias que a Fifa/CBF impuseram e que os governos se
submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro.
As fotos eram claras, no maior templo do futebol mundial não havia
nenhum negro ou mestiço! E aí o aumento das tarifas de ônibus foi apenas
a faísca para acender o sentimento generalizado de revolta, de
indignação. A gasolina para a faísca veio do governo tucano Geraldo
Alckmin, que protegido pela mídia paulista que ele financia, e
acostumado a bater no povo impunemente – como fez no Pinheirinho e em
outros despejos rurais e urbanos – jogou sua polícia para a barbárie. Aí
todo mundo reagiu. Ainda bem que a juventude acordou. E nisso houve o
mérito do Movimento Passe Livre, que soube capitalizar essa insatisfação
popular e organizou os protestos na hora certa.
Por que a classe trabalhadora ainda não foi à rua?
É
verdade, a classe trabalhadora ainda não foi para a rua. Quem está na
rua são os filhos da classe média, da classe media baixa, e também
alguns jovens do que o Andre Singer chamaria de subproletariado, que
estudam e trabalham no setor de serviços, que melhoraram as condições de
consumo, mas querem ser ouvidos. Esses últimos apareceram mais em
outras capitais e nas periferias. A redução da tarifa interessava muito a
todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe livre, soube
convocar mobilizações em nome dos interesses do povo. E o povo apoiou as
manifestações. Isso está expresso nos índices de popularidade dos
jovens, sobretudo quando foram reprimidos. A classe trabalhadora demora a
se mover, mas quando se move afeta diretamente o capital. Coisa que
ainda não começou acontecer. Acho que as organizações que fazem a
mediação com a classe trabalhadora ainda não compreenderam o momento e
estão um pouco tímidas. Mas a classe, como classe, acho que está
disposta a também lutar. Veja que o número de greves por melhorias
salariais já recuperou os padrões da década de 1980. Acho que é apenas
uma questão de tempo, é só as mediações acertarem nas bandeiras que
possam motivar a classe a se mexer. Nos últimos dias já se percebe que
em algumas cidades menores e nas periferias das grandes cidades já
começam a ter manifestações com bandeiras de reivindicações bem
localizadas. E isso é muito importante.
Vocês do MST e dos camponeses também não se mexeram ainda...
É
verdade. Nas capitais onde temos assentamentos e agricultores
familiares mais próximos já estamos participando. Inclusive, sou
testemunha de que fomos muito bem recebidos com nossa bandeira vermelha e
com nossa reivindicação de reforma agrária, alimentos saudáveis e
baratos para todo o povo. Acho que nas próximas semanas poderá haver uma
adesão maior, inclusive realizando manifestações dos camponeses nas
rodovias e municípios do interior. Na nossa militância está todo mundo
doido para entrar na briga e se mobilizar. Espero que também se mexam
logo.
Na sua opinião, qual é a origem da violência que tem acontecido em algumas manifestações?
Primeiro
vamos relativizar. A burguesia, através de suas televisões, tem usado a
tática de assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros
e quebra-quebra. São minoritários e insignificantes diante das milhares
de pessoas que se mobilizaram. Para a direita, interessa colocar no
imaginário da população que isso é apenas bagunça e no final, se tiver
caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença das Forças Armadas.
Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a guarda
nacional e as Forças Armadas para reprimir as manifestações. É tudo o
que a direita sonha! Quem está provocando as cenas de violência é a
forma de intervenção da Policia Militar. A PM foi preparada desde a
ditadura militar para tratar o povo sempre como inimigo. E nos estados
governados pelos tucanos (SP, RJ e MG), ainda tem a promessa de
impunidade. Há grupos direitistas organizados com orientação de fazer
provocações e saques. Em são Paulo, atuaram grupos fascistas e leões de
chácaras contratados. No Rio de Janeiro, atuaram as milícias organizadas
que protegem seus políticos conservadores. E claro, há também um
substrato de lumpesinato que aparece em qualquer mobilização popular,
seja nos estádios, carnaval, até em festa de igreja, tentando tirar seus
proveitos.
PM reprime manifestação em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF) - Foto: Felipe Canova |
Há, então, uma luta de classes nas ruas ou é apenas a juventude manifestando sua indignação?
É
claro que há uma luta de classes na rua. Embora ainda concentrada na
disputa ideológica. E o que é mais grave, a própria juventude
mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está
participando de uma luta ideológica. Eles estão fazendo política da
melhor forma possível, nas ruas. E aí escrevem nos cartazes: somos
contra os partidos e a política? Por isso têm sido tão difusas as
mensagens nos cartazes. Está ocorrendo, em cada cidade, em cada
manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses
de classes. Os jovens estão sendo disputados pelas ideias da direita e
pela esquerda. Pelos capitalistas e pela classe trabalhadora. Por outro
lado, são evidentes os sinais da direita muito bem articulada e de seus
serviços de inteligência, que usam a internet, se escondem atrás das
máscaras e procuram criar ondas de boatos e opiniões pela internet. De
repente, uma mensagem estranha alcança milhares de mensagens. E aí se
passa a difundir o resultado como se ela fosse a expressão da maioria.
Esses mecanismos de manipulação foram usados pela CIA e pelo
Departamento de Estado Estadunidense, na Primavera Árabe, na tentativa
de desestabilização da Venezuela, na guerra da Síria. É claro que eles
estão operando aqui também para alcançar os seus objetivos.
E quais são os objetivos da direita e suas propostas?
A
classe dominante, os capitalistas, os interesses do império
Estadunidense e seus porta-vozes ideológicos, que aparecem na televisão
todos os dias, têm um grande objetivo: desgastar ao máximo o governo
Dilma, enfraquecer as formas organizativas da classe trabalhadora,
derrotar quaisquer propostas de mudanças estruturais na sociedade
brasileira e ganhar as eleições de 2014, para recompor uma hegemonia
total no comando do Estado brasileiro, que agora está em disputa. Para
alcançar esses objetivos, eles estão ainda tateando, alternando suas
táticas. Às vezes, provocam a violência para desfocar os objetivos dos
jovens.
Às vezes, colocam nos cartazes dos jovens
a sua mensagem. Por exemplo, a manifestação do sábado (22), embora
pequena, em São Paulo, foi totalmente manipulada por setores direitistas
que pautaram apenas a luta contra a PEC 37, com cartazes estranhamente
iguais e palavras de ordem iguais. Certamente, a maioria dos jovens nem
sabem do que se trata. E é um tema secundário para o povo, mas a direita
está tentando levantar as bandeiras da moralidade, como fez a UDN em
tempos passados. Isso que já estão fazendo no Congresso, logo, logo vão
levar às ruas. Tenho visto nas redes sociais controladas pela direita,
que suas bandeiras, além da PEC 37 são: saída do Renan do Senado; CPI e
transparência dos gastos da Copa; declarar a corrupção crime hediondo e
fim do foro especial para os políticos. Já os grupos mais fascistas
ensaiam Fora Dilma e abaixo-assinados pelo impeachment. Felizmente,
essas bandeiras não têm nada a ver com as condições de vida das massas,
ainda que elas possam ser manipuladas pela mídia. E, objetivamente podem
ser um tiro no pé. Afinal, é a burguesia brasileira, seus empresários e
políticos que são os maiores corruptos e corruptores. Quem se apropriou
dos gastos exagerados da copa? A Rede Globo e as empreiteiras!
Nesse
cenário, quais os desafios que estão colocados para a classe
trabalhadora e as organizações populares e partidos de esquerda?
Os
desafios são muitos. Primeiro devemos ter consciência da natureza
dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes
para politizar essa juventude que não tem experiência na luta de
classes. Segundo, a classe trabalhadora precisa se mover, ir para a rua,
manifestar-se nas fábricas, campos e construções, como diria Geraldo
Vandré. Levantar suas demandas para resolver os problemas concretos da
classe, do ponto de vista econômico e político. Terceiro, precisamos
explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo. E agora
são os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa
economia, os latifundiários do agronegócio e os especuladores.
Precisamos tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a
aprovação do projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas;
exigir que a prioridade de investimentos públicos seja em saúde,
educação, reforma agrária. Mas para isso, o governo precisa cortar juros
e deslocar os recursos do superávit primário, aqueles R$ 200 bilhões
que todo ano vão para apenas 20 mil ricos, rentistas, credores de uma
dívida interna que nunca fizemos, deslocar para investimentos produtivos
e sociais. É isso que a luta de classes coloca para o governo Dilma: os
recursos públicos irão para a burguesia rentista ou para resolver os
problemas do povo? Aprovar em regime de urgência para que vigore nas
próximas eleições uma reforma política de fôlego, que, no mínimo
institua o financiamento publico exclusivo da campanha. Direito a
revogação de mandatos e plebiscitos populares autoconvocados. Precisamos
de uma reforma tributaria que volte a cobrar ICMS das exportações
primárias e penalize a riqueza dos ricos, e amenize os impostos dos
pobres, que são os que mais pagam. Precisamos que o governo suspenda os
leilões do petróleo e todas as concessões privatizantes de minérios e
outras áreas publicas. De nada adianta aplicar todo os royalties do
petróleo em educação, se os royalties representarão apenas 8% da renda
petroleira, e os 92% irão para as empresas transnacionais que vão ficar
com o petróleo nos leilões! Uma reforma urbana estrutural, que volte a
priorizar o transporte público, de qualidade e com tarifa zero. Já está
provado que não é caro, e nem difícil instituir transporte gratuito para
as massas das capitais. E controlar a especulação imobiliária. E,
finalmente, precisamos aproveitar e aprovar o projeto da Conferência
Nacional de Comunicação, amplamente representativa, de democratização
dos meios de comunicação. Assim, acabar com o monopólio da Globo, para
que o povo e suas organizações populares tenham amplo acesso a se
comunicar, criar seus próprios meios de comunicação, com recursos
públicos. Ouvi de diversos movimentos da juventude que estão articulando
as marchas que talvez essa seja a única bandeira que unifica a todos:
abaixo o monopólio da Globo! Mas, para que essas bandeiras tenham
ressonância na sociedade e pressionem o governo e os políticos, é
imprescindível a classe trabalhadora se mover.
O que o governo deveria fazer agora?
Espero
que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse
apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma
consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar. E mudar a favor do
povo. Para isso o governo precisa enfrentar a classe dominante, em
todos os aspectos. Enfrentar a burguesia rentista, deslocando os
pagamentos de juros para investimentos em áreas que resolvam os
problemas do povo. Promover logo as reformas políticas, tributárias.
Encaminhar a aprovação do projeto de democratização dos meios de
comunicação. Criar mecanismos para investimento pesados em transporte
público, que encaminhem para a tarifa zero. Acelerar a reforma agrária e
um plano de produção de alimentos sadios para o mercado interno.
Garantir logo a aplicação de 10% do PIB em recursos públicos para a
educação em todos os níveis, desde as cirandas infantis nas grandes
cidades, ensino fundamental de qualidade até a universalização do acesso
dos jovens a universidade pública. Sem isso, haverá uma decepção e o
governo entregará para a direita a iniciativa das bandeiras, que levarão
a novas manifestações, visando desgastar o governo até as eleições de
2014. É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro.
E que perspectivas essas mobilizações podem levar para o país nos próximos meses?
Tudo
ainda é uma incógnita, porque os jovens e as massas estão em disputa.
Por isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam
colocar todas suas energias, para ir para a rua. Manifestar-se, colocar
as bandeiras de luta de reformas que interessam ao povo. Porque a
direita vai fazer a mesma coisa e colocar as suas bandeiras
conservadoras, atrasadas, de criminalização e estigmatização das ideias
de mudanças sociais. Estamos em plena batalha ideológica, que ninguém
sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, em cada manifestação,
precisamos disputar corações e mentes. E quem ficar de fora, ficará de
fora da historia.
Foto: Marcelo Camargo/ABr
Fonte: Brasil de Fato.
Fundador do MPL fala sobre o movimento, as jornadas de junho e o Tarifa Zero
Marcelo Pomar, que participou da fundação do Passe Livre, hoje é um dos principais quadros teóricos do movimento
22/07/2013
do Coletivo Maria Tonha
Marcelo Pomar - Foto: Reprodução |
Aos
19 minutos e 23 segundos de "Impasse", documentário sobre as lutas
contra o aumento da tarifa em Florianópolis, há uma cena que tem lugar
no Fórum Social Mundial de 2005, ocorrido em Porto Alegre. Nela, Marcelo
Pomar aparece segurando um microfone e lendo uma carta de princípios de
uma organização “apartidária, mas não anti-partidária”. Era a plenária
de fundação do Movimento Passe Livre, o MPL.
Oito
anos mais tarde, o MPL vive seu momento de maior fama. Isso graças ao
seu papel indutor nos protestos contra o aumento da tarifa de transporte
público em São Paulo, que posteriormente acabaram se desdobrando em
protestos massivos por todo o Brasil.
Já Marcelo
Pomar, hoje com 33 anos, graduado em História pela Udesc e professor de
xadrez, não está mais no dia a dia do MPL por conta do atual trabalho – é
assessor de uma parlamentar na Assembleia Legislativa de Santa
Catariana – mas segue sendo um dos principais quadros teóricos do
movimento. Já falou no TEDxFloripa, em 2011, em apresentação intitulada
“Por uma vida sem catracas”. No último dia 10 de julho, discursou no
plenário da Câmara, em Brasília, em que comentou os recentes protestos
que acometeram o país, além também de ter discorrido sobre o projeto
Tarifa Zero.
O coletivo Maria Tonha realizou uma
longa entrevista com Marcelo para falar sobre a fundação do MPL, as
Jornadas de Junho e o Tarifa Zero. O texto da entrevista foi dividido em
duas partes. A primeira você acompanha abaixo.
Passe Livre como reivindicação histórica
"Na
realidade, temos que voltar um pouco no tempo para entender como se
chegou à fundação do MPL. O passe livre é uma reivindicação histórica do
movimento estudantil. Desde pelo menos o final dos anos 80 no Rio de
Janeiro há movimentos desse tipo, com inclusive uma movimentação
histórica quando o Brizola já era governador do estado. Os estudantes
conseguiram garantir esse direito no Rio, e até hoje esse direito
existe, de forma meio capenga, por conta de liminares de empresas de
ônibus – vira e mexe esse direito é contestado. Então, depois da
abertura política de 1985, o passe livre passou a fazer parte do ideário
do conjunto de reivindicações históricas do movimento estudantil
brasileiro, em especial o secundarista. Nós não inventamos essa
história."
A campanha pelo Passe Livre em Florianópolis
"O
que ocorre é que em 2000 nós tínhamos um grupo aqui em Florianópolis
relativamente organizado que fazia parte de uma organização de juventude
ligada ao PT chamada Juventude Revolução. Nós resolvemos em um grupo
relativamente pequeno à época tocar uma campanha pelo passe livre aqui
na cidade. Essa campanha acabou tomando corpo. À época nós tínhamos
muito tempo livre, já que o movimento estudantil tem essa vantagem da a
gente poder fazer bastante atividade. Nós mapeamos as escolas da cidade,
fizemos um bom trabalho de base levando esse debate do passe livre, e
realizamos uma série de manifestações de pequeno e médio porte entre os
anos 2000 e 2004 que eu considero que criou um conjunto de condições
subjetivas pra que em 2004 nós tivéssemos uma grande movimentação em
Florianópolis, que ficou conhecida como a Revolta da Catraca. Essa
revolta abrange os anos de 2004 e 2005 em que ocorreram dois movimentos
grandiosos, movimentos de massa em Florianópolis, com cerca de 15 a 20
mil pessoas, o que para uma cidade de 400 mil habitantes é um negócio
bastante significativo. Foram movimentos que por dois anos seguidos
barraram o aumento das tarifas, em 2004 e 2005.
"Em
2004 nós já somos um grupo completamente distinto do grupo que começou
essas movimentações em 2000. Isso porque em 2002 nós rompemos com a
Juventude Revolução. Na verdade nós somos expulsos dela porque a gente
começou a desenvolver uma tese de que a juventude deveria ser
independente, quer dizer, deveria fazer suas próprias experiências e não
deveria estar tutelada por uma organização adulta, fosse ela vinculada a
um partido ou não. Em 2004 nós já éramos um grupo amplo, de frente
única, que reunia várias organizações partidárias e muitos jovens
independentes. E foram basicamente esses jovens independentes que
acabaram tocando a coisa a partir de 2002 junto com esse grupo que foi
expulso da Juventude Revolução.
"Não dá pra negar
a importância da Juventude Revolução na gênese desse processo. Mas o
que se tinha já em 2002, 2003, era um negócio muito mais amplo, que não
tinha mais relação propriamente com a Juventude Revolução, e que era a
campanha pelo passe livre, que reunia diversos jovens de grêmios, muitos
deles sem nenhum tipo de vinculação a organização, a instituição ou
partido político. Já era um processo genuíno, um processo diferente e
singular."
Revolta do Buzú
"Tudo
isso consistiu em um conjunto de fatores subjetivos, quer dizer, ajudou
a criar condições para que a gente pudesse ter um caldo de mobilização
em Florianópolis para lutar por esse tema do transporte coletivo,
inicialmente pelo passe livre, depois pela redução das tarifas. Também
contribuiu para esse caldo subjetivo um grande movimento que aconteceu
em agosto de 2003, em Salvador, que ficou conhecido como a Revolta do
Buzú. Na época, circulava pelo Brasil um filme do cineasta argentino
Carlos Prozac chamado Revolta do Buzú. Esse filme a gente passou nas
escolas e nos serviu de grande estímulo. Ele demonstrava inclusive um
perfil novo de juventude, mais desligado das entidades estudantis
tradicionais, mas que estava disposto ao combate e em organização para
luta por reivindicações. Nós nos identificamos muito com aquele
movimento de Salvador. Então isso é um pouco do cenário desse caldo que
nós tínhamos até 2004."
As questões objetivas
"Havia
também um conjunto de questões que considero objetivas e que estão
ligadas à questão material do problema do transporte no Brasil. Uma
questão estrutural mesmo. Nós tivemos de 1994 até 2004 um período de 10
anos de relativo controle inflacionário, de estabilidade da moeda, por
conta do Plano Real. E, no entanto, em Florianópolis, as tarifas de
ônibus aumentaram em um valor de quase 250% nesse período, ao passo que
você não tem nenhuma categoria de trabalhador que recebeu qualquer tipo
de aumento salarial similar a isso. Em Florianópolis, em especial, esses
aumentos foram muito significativos. Outro agravante foi que, em 2003,
criaram um sistema integrado de transportes que mudou radicalmente a
forma pela qual as pessoas se deslocavam na cidade e isso causou muita
revolta, muita indignação. No final de maio de 2004, a prefeita de
Florianópolis, que à época era a Ângela Amim, do PP, decidiu dar um
aumento no preço da passagem de 28%, um reajuste bastante alto. Então
aquilo criou todas as condições para que nós tivéssemos uma onda muito
forte de manifestação."
Criar um movimento nacional
"Em
2004, em Florianópolis, explode essa manifestação grande que tem uma
vitória expressiva que foi a redução dos preços das tarifas. E a gente
começa a pensar o seguinte: 'Olha, como é que a gente se conecta com
outros jovens do Brasil que estão nessa luta? Que veem no que a gente
fez aqui uma referência, e que tem mais ou menos proximidade política
com o que nós estamos pensando?'. Era uma forma de pensar em organização
propriamente. Até porque como nós não tínhamos mais esse vínculo com
organizações estabelecidas, como a Juventude Revolução ou a Juventude do
PT, nós achávamos que era necessário ter uma organização própria que
fizesse um movimento social de característica urbana e que discutisse a
questão do transporte coletivo, em especial a do passe livre. Daí surgiu
a ideia de fundar o MPL. Uma organização que juntasse essas várias
lutas do Brasil em torno do transporte, sobretudo em relação ao passe
livre. Nós fizemos em novembro de 2004 um primeiro encontro. Esse
encontro foi em Florianópolis e foi bastante bizarro. Deu uns grupos
maoístas, deu tudo quanto é tipo de grupo. Foi num camping no norte da
ilha, nos Ingleses. Foi uma experiência, e depois disso nós decidimos
fazer um encontro nacional em Porto Alegre, durante o Fórum Social
Mundial, em 2005. Fomos incentivados principalmente por Florianópolis
por conta da experiência que nós tivemos, e por alguns contatos que nós
tínhamos – e aí entra em particular uma outra organização que nos
ajudou, sobretudo do ponto de vista de comunicação nacional, que foi o
CMI (Centro de Mídia Independente). E por isso, nesse processo
embrionário do MPL, o CMI deu uma ajuda principalmente no que diz
respeito à comunicação entre esses grupos. Assim, em janeiro de 2005, é
fundado oficialmente o Movimento Passe Livre nacional.
"O
MPL nasce acho que em 11 capitais, o que para um grupo como o nosso era
um grande feito, porque na realidade nós não tínhamos uma grande
estrutura, não tínhamos nenhum partido por trás, nenhuma organização de
peso, o próprio CMI não era uma organização de peso, embora tivesse
relações internacionais. Então ele já nasce de certa forma forte. Em
2005 a gente volta a ter um movimento de luta, de jornadas importantes,
barra de novo o aumento da tarifa em Florianópolis. E a gente começa a
ver jornadas de luta em vários lugares do Brasil, que, de alguma forma, o
MPL também incentivou."
Do Passe Livre Estudantil ao Tarifa Zero
"Desde
fevereiro de 2011, eu contribuo de maneira mais distante com o MPL.
Como fui prestar assessoria política para um mandato da Assembleia
Legislativa de Santa Catarina, tomei a decisão de não ter uma relação
orgânica, cotidiana com o movimento, porque eu achava que isso de certa
forma também não seria bom, não seria produtivo. Mas eu continuo
contribuindo, sobretudo no que diz respeito à elaboração teórica e às
questões políticas do movimento. Porque o movimento tem um momento de
virada muito importante, há um período de refluxo nos movimentos de rua
no MPL, sobretudo em 2008, 2009, que é combinado, e isso não aconteceu
de maneira pensada, mas acabou sendo assim, com um período de
aprofundamento da temática. O MPL para de discutir passe livre dos
estudantes, ou a reivindicação pequena, menor, e começa a entender o
contexto do direito à cidade. Quer dizer, a gente tem uma transição para
o Tarifa Zero. Porque o passe livre é reivindicação historicamente
ligada ao movimento estudantil. E o Tarifa Zero passa a ser o
entendimento de que a cidade, por concentrar as grandes conquistas
tecnológicas, científicas, culturais da humanidade, precisa ser então
democratizada. E a democratização ao acesso à cidade passa
necessariamente pela garantia do acesso e da chegada aos equipamentos
públicos e privados que na cidade estão espalhados. Então nesse período
nós ampliamos a concepção. Foi ali que tive a oportunidade de conhecer o
Lúcio Gregori, que foi secretário de transportes da gestão da Erundina
em São Paulo, e ele nos ajuda muito."
Fonte: Brasil de Fato.
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